Perder para ganhar

Há uma máxima antiga, que não me lembro de ter lido em lado algum, mas que há 48 anos vejo expressa em realidades suficientes para a ter aprendido e decorado: uma marca nunca terá tudo a ganhar, mas terá sempre tudo a perder.

Nunca terá tudo a ganhar porque a hegemonia é a mais apetecida das quimeras, porque a supremacia é a maior conquistadora de adversários, porque a História está cheia de imperadores caídos e ditadores dos quais nem as estátuas sobraram.

Todos provaram ter sempre tudo a perder menos o ensejo de tentar de novo. Não, não estou a filosofar. Estou apenas, a um dia de estrearmos a primeira campanha de sempre num Mundial de Futebol com o estatuto de Campeões Europeus, a lembrar que tal predicado o é precisamente por ser tão efémero quão difícil é de repetir. 


Por ser essa dificuldade a conferir-lhe beleza, por ser essa beleza que tanto apego nos dá a ela... por ser tão difícil que todos se desapeguem dela tão rápido e plenamente como é preciso para lhe reconquistar o gosto e a capacidade de a reconquistar.

A Marca Campeões da Europa assenta-nos bem? Assenta. Mas a refrescada cobrança que adivinho a cada remate ao lado, defesa falhada, jogo enfadonho, esperança ao barrote, é a mesma que vi na frustração com a medalha olímpica que encalhou num ramo, numa perna magoada, num triplo ainda melhor sonhado que concretizado. 

Do Fernando, esse teimoso sonhador, nunca veio a promessa de vencer sempre tudo. Provou que o alinhamento dos planetas existe mas jamais será capaz de os manter na ordem perfeita. Do Éderzito, dos Éderzitos que moram em nós, virão mais vezes olhos que barriga, porque é assim o Mundo da bola. Muito Querer nunca deu Sempre poder. Uma coisa é descobrir a pólvora. Outra é achar que mais ninguém a vai usar. Mas que soube que nem ginjas aquele fogo de artifício em Paris? Ui... se soube. 

Haja boa memória e tino para o sabermos fazer durar nos nossos corações... e um dia destes, por sabermos Começar de Novo, replicar.

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