O treinador da época...são dois?

Pode até ser injusto, mas no futebol o mérito é quase sempre medido aos pontos e não com base nas exibições ou na capacidade de gestão de uma equipa. É inevitável que volte a acontecer esta temporada, na quase épica luta pelo título. Quem é o treinador da época? A pergunta, inevitável, só terá resposta num qualquer domingo de maio, depois de fechadas as contas do campeonato.

Vamos então somar alguns ingredientes a mais esta luta entre dois treinadores que já levam dez meses de confronto direto. Dentro e fora da relva.

Rui Vitória precisou de aguentar e sofrer até final do ano para acertar o passo com aquilo que os adeptos esperavam. A partir de 20 de dezembro começou um trajeto longo, 19 vitórias em 20 jornadas, com o pleno a ser quebrado em casa, com o FC Porto. Essa derrota, em fevereiro, antecipava um fim de época doloroso, mas foi noutro palco grande que o técnico assegurou a reabilitação. O golo de Mitroglou, em Alvalade, deu a liderança ao Benfica e pôs o país futebolístico a fazer contas à espetacular recuperação dos encarnados.

Ao mérito dessa escalada, o treinador juntou a coabitação pacífica com o projeto europeu, fechado nos quartos-de-final da Liga dos Campeões e perante um Bayern que assegurou uma passagem natural, mas sem números capazes de deixar marca negativa para o resto da temporada.

Apesar disso, falta ainda por vezes ao futebol do Benfica uma ideia mais clara de jogo, que permita descolar do talento individual e do improviso (tantas vezes confundido com sorte), que tantos triunfos asseguraram neste campeonato.

Do outro lado está Jorge Jesus e uma forma de comunicar e treinar que se mantém inalterada. E que tem dado bons resultados, pelo menos internamente. À confrontação com Rui Vitória, ao discurso ambicioso e a alguns reforços muito interessantes, Jesus soube juntar o óbvio aproveitamento de muitos dos nomes que já estavam no plantel.

O Sporting mostra em campo o melhor futebol do campeonato e muita dessa qualidade exibicional passa por quatro jogadores: Adrien, Bryan Ruiz, Slimani e, acima de todos, João Mário. Na ala ou no meio, o médio dos leões bate-se, jornada a jornada, pelo título de melhor jogador da temporada.

Jorge Jesus prometeu que os candidatos ao título seriam três e isso só não é verdade porque o Porto escorregou muito cedo dessa luta. É quase certo que o Sporting vai estar no centro da decisão até ao último jogo, mas pelo caminho deixou cair a liderança e uma vantagem muito confortável, mesmo virando as costas a todas as outras competições. E Jesus corre o risco claro de nada ganhar, numa época de expetativas muito elevadas e com recursos bem superiores aos dos técnicos que o antecederam.

Quem é o treinador da época? Talvez sejam dois. Mas os pontos, como sempre, estarão lá para desempatar.

Uma nota final para o Leicester, novo e inédito campeão inglês: a equipa de Claudio Ranieri não ficará na história por jogar um futebol bonito, mas mostrou que às vezes a realidade pode ser mais surpreendente do que os sonhos.

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