As mudanças de Rui Vitória

O jogo com o Nápoles, a contar para a Liga dos Campeões, foi a única derrota do Benfica nos quinze jogos oficiais já realizados até agora e parece ter funcionado como uma espécie de campainha de alarme que tocou na Luz.

A forma como os tricampeões nacionais saíram derrotados de Itália, com a defesa e o guarda-redes a cometerem erros atrás de erros, obrigou Rui Vitória a atalhar caminho e a fazer alterações nos nomes dos artistas, a retomar apostas antigas que pareciam estarem ultrapassadas e, causa efeito, a recolocar o Benfica no trilho das vitórias, de tal forma que daí para cá nunca mais a equipa perdeu qualquer ponto, tendo apenas sofrido um golo e curiosamente frente ao 1º de Dezembro, numa partida a contar para a quarta eliminatória da Taça de Portugal. Com isto tudo já passaram três jogos para a liga portuguesa e dois para a Liga dos Campeões.

Nestas coisas raramente há coincidências. Na baliza a aposta em Ederson passou a ser quase que permanente. O jovem brasileiro que, não tivesse sido uma lesão, teria sido campeão olímpico pelo Brasil, assumiu a titularidade nos seis jogos de que estamos a falar, tendo relegado o veterano Júlio César para o banco dos suplentes. A apregoada rotatividade na baliza acabou e percebeu-se isso mesmo quando a ela se referiu Rui Vitória na conferência de imprensa de lançamento do jogo de Kiev. 


Outra das alterações verificadas foi no eixo da zona defensiva. Lisandro López, o argentino que começou como titular, e bem, tendo realizado seis jogos para a liga e dois para a Liga dos Campeões, foi apeado por Luisão. O capitão dos encarnados, que esteve para ser dispensado no início da temporada – sejamos claros porque foi isso que se pretendeu fazer – regressou à equipa no jogo com o Feirense e a partir dai nunca mais saiu. Trouxe qualidade, maturidade, voz de comando e liderança. Os encarnados só ganharam com isso.

O jogo de Nápoles trouxe ainda uma outra mudança – em minha opinião a mais importante de todas – e que foi a passagem de Pizzi da ala para a posição oito, neste caso por causa da lesão do jovem André Horta. O internacional português passou a ser, ao lado do sérvio Fejsa, o verdadeiro organizador do jogo ofensivo dos encarnados. É ele quem passou a dar critério ao futebol atacante da equipa. Passou a fazer a ligação entre os setores. Uma ligação com qualidade o que por vezes não acontecia. Não quero com isto dizer que o jovem médio que veio do Vitória de Setúbal não seja um jogador competente e com um enorme potencial. Não é nada disso. O que acontece é que Pizzi é mais experiente, mais maduro e isso nota-se.

Por fim, e depois de várias experiências nas alas, o argentino Cervi ganhou a titularidade a um apagado Carrillo, até porque Pizzi deixou de descair para essa zona do terreno, enquanto no apoio ao ponta-de-lança Mitroglou – não havia outro disponível - Gonçalo Guedes aproveitou o mar de lesões que assolou a equipa para se afirmar como uma alternativa muito válida, de tal forma que, neste momento, é a opção número 1 para o lugar, nem se percebendo onde se vão encaixar Jonas e Rafa quando estiverem recuperados, o que vai acontecer a curto prazo. Sendo que estamos a falar de dois grandes jogadores.

As mudanças que Rui Vitória introduziu na equipa, umas por necessidade, outras por convicção, tornaram o Benfica mais forte como equipa. É certo que, em minha opinião, esta equipa não tem o futebol vistoso que num passado recente apresentava. A nota artística não é muito elevada. No entanto, estamos em presença de uma equipa muito competente que sabe exatamente o que tem de fazer para ganhar os jogos. É, provavelmente, a equipa mais madura da era Rui Vitória e se no domingo conseguir ganhar o clássico com o FCPorto, no Dragão, será a principal e talvez única candidata ao título. Disso ninguém tenha a mínima dúvida. É que a diferença do líder para os outros passa a ser colossal e é preciso não esquecer que estamos na liga portuguesa onde as equipas da frente não costumam perder muitos pontos. Tem, por isso, neste caso, a palavra o FC Porto.

pub