Jorge Jesus: nada é por acaso

Esta é uma discussão que já tive várias vezes de forma mais ou menos privada. Jorge Jesus pode, por vezes, ter alguma dificuldade em expressar-se num português correto. Isso parece-me evidente, mas ele, melhor do que ninguém, sabe como fazer passar uma mensagem.

E sabe como fazê-la chegar ao grande público. Desse ponto de vista é, em minha opinião, um excelente comunicador. Um dos melhores que o futebol português tem. É a diferença entre o saber-se expressar e o saber comunicar. São coisas bem diferentes. Mais do que isso, é um dos treinadores que prepara as mensagens que pretende passar à opinião pública pelo que nada do que diz é fruto do acaso ou de ser apanhado por uma pergunta mais atrevida de um repórter. Ele sabe o que diz, por que o diz e quando o diz. Nada é por acaso.

Esta explicação vem a propósito de uma entrevista que o treinador do Sporting deu esta semana à agência espanhola de informação EFE em que, entre várias considerações, disse que só sairia de Portugal se fosse para um grande clube europeu, que o dinheiro não é critério para deixar o país e treinar em destinos exóticos e bem pagos, como o Qatar ou a China, e que não é um treinador de um clube mas sim um treinador do Mundo que treina com paixão e sabedoria.

Conhecendo Jorge Jesus há muitos anos não tenho a mínima dúvida que a três jornadas do fim do campeonato, com o seu clube na luta pelo título, esta entrevista teve o objetivo de o deixar na pole position de um mercado que vai seguramente mexer, apesar de se saber que tem contrato com os leões por mais duas temporadas.

Foi como se tivesse dito que está disponível para, pelo menos, analisar propostas. Se está ou não satisfeito, em Alvalade, não sei, mas que admite sair no final desta temporada, esta entrevista demonstra-o com enorme clareza. Porquê? Só ele mesmo o poderá explicar, apesar de também saber que, na próxima conferência de imprensa, quando for questionado sobre este assunto, ir dizer que os jornalistas não perceberam nada do que ele disse. É outro clássico!

Apesar de reconhecer competência e qualidade a Jorge Jesus tenho as maiores dúvidas que consiga desempenhar o seu trabalho numa outra língua que não o português, e nem a ajuda de um tradutor o poderá ajudar. Bem sei que a linguagem do futebol é universal mas uma das características de Jorge Jesus é ser genuíno e isso perde-se com a necessidade de haver um intermediário.

Assim sendo, não acredito que tenha qualquer hipótese de treinar numa das grandes ligas europeias e não será por falta de competência, insisto.

Resta, por isso, manter-se em Portugal e, por cá, depois de ter estado seis épocas no Benfica, onde foi campeão por três ocasiões e de ter protagonizado a saída para o eterno rival Sporting, onde revolucionou os métodos de trabalho, não há grandes alternativas.

Sim estou a falar numa ida para o FCPorto! Ser campeão nos três grandes clubes do futebol português pode ser um dos seus grandes objetivos. Uma ideia que o deixaria na história do futebol nacional para a eternidade.

Talvez algo muito mais importante do que uma quantidade enorme de dólares que, em boa verdade, ele já ganha, embora noutra moeda, e sem abdicar de outros aspetos que lhe são muito importantes como a vida familiar.

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