Passa a minha camisa a ferro

As campanhas eleitorais são fascinantes porque são sempre imprevisíveis. Nunca sabemos o que pode acontecer.

Testemunhei este episódio numa tarde fria de janeiro, num pequeno auditório de uma escola secundária em Salem, New Hampshire, EUA.

Tinha conseguido um dos escassos lugares reservados a jornalistas estrangeiros para filmar o comício de Hillary Clinton, na campanha das primárias do Partido Democrata.

Hillary entrou em palco e preparava-se para atacar o rival Barack Obama que, uma semana antes, a tinha batido no Iowa, na primeira etapa das primárias.

"Everybody in this race is talking about change. But what does that mean?"

Mudança era a palavra chave no discurso de Obama. Uma palavra-ideia-promessa que haveria de inspirar um país inteiro e levar um jovem senador, com pouca experiência, ao mais alto cargo da nação americana.

Eis quando, inesperadamente, um homem se levanta da plateia, interrompe o discurso e desata a gritar, dirigindo-se à candidata:

"Iron my shirt, iron my shirt, iron my shirt..."

Hillary não se embaraçou, fez uma pequena pausa, o homem foi levado para fora da sala, a plateia aplaudiu, ela concluiu o discurso:

"Oh the remnants of sexism are alive and well tonight..."

Eu tinha, em imagens, o material que precisava para contar uma boa história para o Telejornal.

Oito anos depois a Hillary Clinton volta a estar na corrida presidencial.

Será que, desta vez, irá alguém levantar-se da plateia e pedir a Hillary que lhe passe a camisa a ferro?

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