"O mais importante é nunca desistir"

por Sandra Henriques - RTP
Tiago Pimenta de Sousa afirma que os atletas lhe dão força para atingir os seus próprios objetivos Foto: Sandra Henriques/RTP

A frase é de Tiago Pimenta de Sousa, o preparador físico das atletas Ana Rente e Beatriz Martins, medalhadas de bronze nos Jogos Europeus, em Baku. O jovem de 31 anos é ele próprio um exemplo de superação diária.

O dia vai longo quando nos encontramos com Tiago Pimenta de Sousa na sala de exercício do Lisboa Ginásio Clube em que está a trabalhar. A esta hora há alguns atletas a treinar nas máquinas, para além de comuns mortais que suam para se manterem em forma.

Tiago é professor nesta sala, para além de fazer o acompanhamento físico dos ginastas do projeto olímpico Ana Rente e Diogo Ganchinho e de dar preparação a outros atletas que treinam aqui em trampolins, ginástica acrobática e ginástica artística.

Em tempos ele próprio foi atleta de alta competição e ganhou vários campeonatos distritais e até nacionais. Desde os 12 anos que praticava “tumbling”, que é uma disciplina de ginástica acrobática. Ganhou um total de 50 medalhas. Um dia o treino correu mal.

“Caí com a testa, e o corpo foi para a frente, causando a luxação do C5-C6. Foi a 12 de janeiro de 2005, portanto há dez anos”, conta Tiago ao online da RTP.

A lesão na coluna cervical deixou-o tetraplégico e atirou-o para o hospital, onde viria a ser submetido a uma intervenção cirúrgica. A fisioterapia passou a ser diária.


“Continuo a fazer fisioterapia até hoje. Não mexia nada do pescoço para baixo. Foi duro os primeiros meses: treinar quatro horas por dia, não poder fazer mais nada, e não conseguir mexer nada do pescoço para baixo, mas fui pouco a pouco e nunca desisti. Acho que é o mais importante”.

Hoje em dia Tiago é paraplégico, mas já vê diferenças colossais em relação aos primeiros tempos: “Estar deitado numa cama e dizerem que eu não ia sair de lá acho que me deu ainda mais força para conseguir os meus objetivos. Pouco a pouco, já me ponho de pé, já dou uns passinhos, já dá para fazer várias coisas, mas ainda tenho muita luta pela frente.”

Na altura em que teve o acidente Tiago estava a fazer o curso técnico-profissional que dava equivalência ao 12.º ano. Esta parte da sua vida ficou em suspenso.

“Estive bastante tempo no Hospital de São José e estive muito tempo em Alcoitão [no Centro de Medicina de Reabilitação]. Depois fui tirar o curso de instrutor de fitness especializado. Só a seguir é que comecei aqui a estagiar, e depois de estagiar é que comecei a trabalhar aqui na sala de exercício”. Tinham passado cerca de dois anos após o acidente.

Mestrado em alto rendimento na mira

Atualmente, Tiago trabalha também noutros dois grandes ginásios de Lisboa – o Ginásio Clube Português e o GoFit –, o que lhe deixa pouco tempo livre para os estudos. Ainda assim, o preparador físico não se deixa intimidar pelo caminho que precisa de percorrer.

Uma das metas que tem bem definidas na sua cabeça é a de ingressar no ensino superior para chegar a um mestrado em alto rendimento.

“Quando ia tirar a licenciatura foi quando me aconteceu o acidente. Depois comecei a trabalhar. O único dia no qual não trabalho é ao sábado, por isso tenho que organizar as coisas para começar a fazer a licenciatura e depois o mestrado. Se não for cá em Portugal, no estrangeiro.”

Tiago mostra-se um profissional exigente e rigoroso quando revela que está sempre a ler livros técnicos e a confrontar as suas opiniões com as de outras pessoas.


“O meu sonho e o meu objetivo é sempre principalmente treinar atletas de alta competição, que é o que eu gosto de fazer. Tenho que estudar para conseguir dar tudo o que eles precisam, ou seja, estudar em prol desses atletas para conseguirem esses objetivos.”

O jovem quer sempre que os atletas que treina cheguem mais alto. “É dar o melhor para eles, dar o melhor para mim, e não parar de estudar. O mais importante é não estagnar, porque esta área está em constante evolução”, argumenta.

“Mais um empurrãozinho” às atletas medalhadas

O preparador físico está a trabalhar com Ana Rente e Beatriz Martins desde dezembro de 2014. Não esconde o orgulho pelo facto de as portuguesas terem arrebatado uma medalha de bronze nos primeiros Jogos Europeus, em Baku, no passado fim de semana.

Questionado sobre o tipo de trabalho que faz com ambas, Tiago conta que a ideia é “dar-lhes mais força”.

“É um trabalho mais específico para dar outra preparação que todos os atletas precisam, que é a preparação física na sala. Só a preparação dos trampolins não chega. Precisam de mais um empurrãozinho para chegar àqueles objetivos que fazem sempre falta”.

O trabalho de preparação física inclui vários tipos de exercícios, desde agachamentos a peso-morto. “Tudo o que elas não gostam, mas é muito importante”, sublinha com um sorriso.
O número de vezes que treinam por semana depende dos campeonatos que têm, oscilando normalmente entre as três e as quatro vezes por semana. “Começámos com duas e depois fomos aumentando”, descreve o instrutor.

“Atletas olímpicos só tenho dois, Ana Rente e Diogo Ganchinho, mas tenho ainda os outros todos dos trampolins que também estão a treinar comigo. Estes não fazem parte do projeto olímpico, mas estão a fazer preparação olímpica também.”



Neste momento ainda não estão definidos os nomes dos atletas que vão aos Jogos Olímpicos de 2016. Só se vai saber quem tem passaporte para o Rio de Janeiro no campeonato do mundo de ginástica de trampolim que vai decorrer no final de novembro em Odense, na Dinamarca.

Entretanto, Tiago garante que vai continuar a trabalhar também para deixar de precisar da cadeira de rodas.

“A força que os atletas me têm dado quando treinam e a força com que eles puxam é também um grande incentivo para eu conseguir os meus objetivos”, conclui.
Tópicos
pub