Autocarro acidentado na Sertã tinha apenas sete cintos de segurança

por RTP com Lusa
Paulo Novais, Lusa

A ausência de cintos de segurança na maioria dos lugares dos passageiros do autocarro acidentado na Sertã terá contribuído decisivamente para o elevado número de mortos, 11 das 43 pessoas que seguiam no veículo de matrícula espanhola. Agora, para apurar responsabilidades, é necessário saber o ano da matrícula do autocarro. A administradora da empresa proprietária do veículo já garantiu à Lusa que estava tudo "seguro".

"Os dois primeiros bancos da frente tinham cinto. Como é um autocarro espanhol, não tinha nos outros. A minha salvação, da minha filha e das pessoas que iam ao meu lado foi essa, porque não fomos projetados", garantiu Ana Paula Milho, mulher do motorista, Marco Correia, que trabalha na empresa espanhola Rabazo Autocares há cerca de seis anos.

Em Espanha, só os veículos de longo curso posteriores a 2007 têm obrigação de ter cintos de segurança em todos os lugares, enquanto em Portugal a imposição vigora desde 1 de Outubro de 1999.
Dez dos 11 mortos eram de Portalegre e foram decretados dois dias de luto no concelho. Dezenas de pessoas já pediram ajuda psicológica ao gabinete de apoio criado pela autarquia. Os primeiros corpos das vítimas devem começar a chegar já esta manhã.

A presidente da Câmara Municipal de Portalegre, Adelaide Teixeira, adianta que as equipas de médicos foram reforçadas para avançar com as autópsias o mais rápido possível. "As autópsias vão ser fundamentais para a reconstituição do acidente",
conjugadas "com engenharia forense" para obter "uma justiça o mais célere
possível" afirmou à Lusa o Presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal, Duarte nuno Vieira.

A administradora da empresa proprietária do autocarro garantiu hoje à agência Lusa que o veículo estava em condições. "Estava tudo bem, tudo seguro", afirmou Célia Rabazo, da empresa Rabazo Autocares, de Badajoz, em Espanha.

Célia disse que não sabia qual a data da matrícula do autocarro. Se for anterior a 2007 não estará ilegal em Espanha e, devido à lei comunitária, tem também autorização de circular nas estradas portuguesas, apesar da lei nacional ser mais exigente.

A administradora da Rabazo Autocares disse igualmente ser habitual as empresas portuguesas daquela zona alugarem autocarros em Espanha devido à proximidade das localidades.

"Estamos aqui pegados a Portugal, temos muitas relações. Vivemos aqui, na zona fronteiriça com Portugal, portanto temos muitas relações", justificou Célia.
Segundo Célia Rabazo, o problema terá estado na estrada por onde viajava o veículo que, segundo referiu, "estaria em obras".
Onze pessoas morreram no domingo e 32 ficaram feridas no despiste do autocarro da Rabazo, que caiu numa ravina cerca das 8h30, no nó de acesso do IC8 ao Carvalhal, na Sertã, distrito de Castelo Branco.

O autocarro transportava 43 pessoas, incluindo sete crianças. Tinham saído de Portalegre cerca das 6h15 para visitar S. Paio de Oleiros em Santa Maria da Feira.

Entre 32 feridos registaram-se seis graves, transferidos para os Hospitais Universitário de Coimbra, Castelo Branco e Hospital de São José, em Lisboa. Há quatro adultos internados nos hospitais de Coimbra, para além de quatro crianças internadas no Hospital Pediátrico de Coimbra com ferimentos ligeiros.

O ministro da Administração Interna Miguel Macedo, que se quis inteirar, em Coimbra, do estado de saúde dos feridos, revelou este domingo estar igualmente a ponderar a necessidade das organizações de excursões estarem obrigadas a uma lista de passageiros.

"Não sei se vale a pena ou não exigir à organização de excursões, como neste caso, que tenha listas dos passageiros, o que facilitaria a operação de socorro. Mas é uma situação a ponderar", avançou, citado pela Lusa.

O governante adiantou igualmente ser "ainda cedo para saber as causas" do acidente e disse esperar que a investigação esteja concluída o mais "rápido" possível.

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