O Edifício Cruzeiro vai conhecer novo destino a partir do próximo ano RTP

Cruzeiro: o renascer do icónico edifício cascalense

Nasceu em 1951 aquele que é conhecido como o primeiro centro comercial em Portugal. O Edifício Cruzeiro, no concelho cascalense, já foi um local com uma vida própria e entusiasmante nos arredores de Cascais. Ao longo dos anos, o espaço que maravilhou pela traça mais moderna, foi-se degradando, chegando a um estado de autêntica inutilização. Em 2016, 65 anos depois da inauguração, o antigo Edifício Cruzeiro vai conhecer um novo destino: naquele local icónico vai ser construída a nova Academia de Artes do Estoril.

Foi nos anos 50 que começou a saga dos centros comerciais em Portugal. O primeiro foi inaugurado no Monte Estoril, no concelho de Cascais. O Edifício Cruzeiro foi o primeiro a ter o epíteto de catedral do consumo, 20 anos antes de aparecer o Apolo 70. A obra ficou a cargo do arquiteto Filipe Nobre de Figueiredo e a sua construção terminou em 1947, dois anos após o término da II Guerra Mundial. Quatro anos mais tarde deu-se a abertura do primeiro espaço comercial português, tornando-se numa das maiores referências da arquitetura de Cascais.

Foi visitado por muitos, incluindo monarcas europeus e gente endinheirada que ficou por Portugal no período pós-guerra.

No entanto, com o avançar dos anos, o Cruzeiro foi sofrendo a degradação. Vários espaços comerciais foram fechando e o edifício foi perdendo vida, ao ponto de não ter mais qualquer atividade coadunante com a finalidade com que havia sido construído.

Agora, em 2016, o Edifício Cruzeiro, que se encontra abandonado, com apenas dois espaços comerciais abertos, vai conhecer nova vida com a projeção da construção de uma nova Academia de Artes que vai integrar um polo cultural naquela zona de Cascais.
Nova centralidade cultural em Cascais
As palavras são de Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais. O Cruzeiro faz agora parte do município de Cascais. Mas esteve nas mãos do BPI, antes da mudança para a Câmara de Cascais.

Miguel Pinto Luz destaca o facto de o Cruzeiro ter sido o primeiro centro comercial em Portugal, inaugurado em 1951, realçando as boas memórias deixadas à população do Monte Estoril, na periferia da vila cascalense.

“É um edifício que queremos preservar tanto na traça, como na memória da utilização do espaço, uma nova centralidade para toda esta zona do Monte Estoril”, afirmou o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais.


No próximo ano vai iniciar-se a construção de uma nova obra naquele que já foi um dos edifícios mais icónicos em Cascais. O Cruzeiro vai transformar-se, a partir de 2017, numa academia de artes, integrando na nova obra uma biblioteca, escola de audiovisuais, um auditório de 400 lugares, uma escola de teatro e um museu que vai receber o espólio do TEC.

Uma das garantias do vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais é a de que o Teatro Experimental de Cascais vai relocalizar-se para o espaço degradado do Edifício Cruzeiro, criando um polo cultural que numa questão de metros inclui o Conservatório de Música de Cascais, a Escola de Dança, o Museu da Música Portuguesa e o Casino Estoril.
Uma obra generosa em termos espaciais
A nova obra para a construção de uma academia de artes vai ficar a cargo de Miguel Arruda. O arquiteto cascalense falou sobre o novo projeto e sobre como pretende remodelar o antigo Edifício Cruzeiro para adaptá-lo a um espaço dedicado à cultura nos arredores de Cascais.

A traça moderna e original do espaço é para manter, como explica o arquiteto Miguel Arruda, explicando que a parte interior, que antes esteve cheia de vida com várias lojas e espaços comerciais, vai ser demolido para dar lugar a novas divisões.

“É uma peça arquitetónica com muito interesse, é uma peça típica da sua época na medida em que junta um estilo modernista com um estilo mais conservador, identificado como Português Suave”, disse Miguel Arruda.

“O que é muito importante é o facto de termos a oportunidade de intervir no edifício que tem uma história e uma qualidade – a sua espacialidade tem muito interesse e permite-nos uma intervenção muito ambiciosa”.

A única peça comercial que se vai manter no novo espaço do Cruzeiro será a farmácia que por lá ainda se encontra, ficando integrada num espaço traseiro do edifício. O auditório, uma das grandes atrações do novo projeto, vai ficar alocado no primeiro piso. Os segundo e terceiro pisos vão contar com a escola de Teatro e com uma secção de audiovisuais e multimédia.

No terraço do edifício, a placa de betão vai ser recuperada dando lugar a um espaço verde, um jardim, ao qual acrescem dois espaços de habitação, aproveitando as estruturas que ainda se encontram no terraço.
Local de convívio para a elite europeia
Ao longo dos anos, o Edifício Cruzeiro foi conhecendo o abandono e por conseguinte viu os seus espaços comerciais a serem fechados. No entanto, existem ainda dois espaços que subsistem no Monte Estoril.

Um desses espaços é o atelier de costura de Ana Carolo. Proveniente dos anos 70, a antiga Gruta foi um dos espaços mais visitados pela elite europeia que viveu no concelho de Cascais durante vários anos. Criado por Josefina Carolo, avó de Ana Carolo, o atelier passa por dificuldades e diz ter futuro incerto naquele que será a requalificação do espaço do Cruzeiro.

O espaço foi construído para ter trabalho exposto e para ter um local onde receber os clientes que faziam parte do jet-set internacional naquela época. Apesar de receber a fina flor em termos de clientela, Ana Carolo afirmou que o espaço d’A Gruta ficou sempre marcado pela falta de acabamento no edifício e falou nas várias estruturas ali montadas, não aproveitadas e que com o passar do tempo foram fechando, deixando parte da vida social do Monte Estoril morta.

“Teve uma época áurea, mas há sítios lá em cima que nunca foram concluídos. A partir daí ficou sempre em águas tépidas, uma coisa que não se definia. O cinema deixou de funcionar pouco tempo depois”.

Apesar das dificuldades, Ana Carolo recorda as pessoas que passaram pelo atelier enquanto era criança e a sua avó estava à frente dos destinos do espaço comercial, como a Marquesa de Lavradio, a mãe do antigo Rei de Espanha, Maria das Mercedes de Bourbon-Duas Sicílias, a princesa de Itália e as princesas espanholas.
Um espaço que merece ter um novo destino
Percorrendo as ruas onde se encontra o Edifício Cruzeiro, as pessoas são unânimes – o espaço merece melhor reaproveitamento e ter uma nova vida no Monte Estoril. Poucos são os que sabem qual foi o seu primeiro propósito, ou seja, que se tratava de um centro comercial.

Mas a degradação e encerramento do espaço do icónico edifício cascalense são motivo de tristeza para quem ali vive perto da zona. Por isso, a requalificação é vista com bons olhos, numa obra que início previsto para o próximo ano.

Veja aqui as fotos do Edifício Cruzeiro antes de ser requalificado.

Inaugurado em 1951, o Edifício Cruzeiro foi o primeiro Centro Comercial a ser inaugurado em Portugal. Sessenta e cinco anos depois, a estrutura encontra-se abandonada e degradada e vai conhecer um novo destino: a nova Academia das Artes do Estoril.