DECO alerta para uso de fritos e vaca nas cantinas de algumas escolas

por Agência LUSA

Um estudo da Associação Portuguesa de Defesa do Consumidor (DECO) revela que a maioria das refeições servidas nas cantinas escolares são equilibradas, embora algumas abusem da carne de vaca e de porco, assim como de fritos e doces.

O trabalho, publicado na edição de Setembro da revista DECO Proteste e que faz a análise de 2.936 ementas escolares servidas durante três semanas em 198 escolas do 2º e 3 ciclos do ensino básico e do secundário (179 públicas e 19 privadas) vai ser apresentado terça- feira na Escola Secundária do Monte da Caparica.

Trata-se de uma amostra representativa das cerca de 3.200 escolas destes níveis de ensino existentes no país.

A importância do equilíbrio nutricional nas ementas escolares assume especial importância numa altura em que a sociedade portuguesa desperta para o problema da obesidade infantil.

Portugal está entre os países europeus com maior número de crianças com excesso de peso, assim como Malta, Espanha e Itália.

Nestes quatro países, as taxas de sobrepeso e de obesidade excedem os 30 por cento nas crianças entre os sete e os 11 anos.

Pais obesos, hábitos alimentares errados, pouco exercício físico e muitas horas em frente à televisão são traços comuns aos cerca de 30 por cento de crianças portuguesas com excesso de peso.

Segundo o estudo da DECO Proteste, os bifes de vaca predominam nas ementas (39 por cento), logo a seguir ao peixe, embora esta carne tenha gordura mais prejudicial do que frango ou o peru e seja mais cara.

Cada 100 gramas de carne vermelha tem, em média, 15 gramas de gordura, enquanto que a branca não ultrapassa oito gramas.

Entre os pratos mais comuns encontram-se o empadão, a carne à bolonhesa e o arroz à valenciana.

Relativamente ao peixe, a análise revela que na maioria das vezes, é frito e a diversidade reduzida.

Os pratos de peixe mais frequentes são o bacalhau à brás, à Gomes de Sá ou com natas, empadão de peixe (com atum), arroz de polvo, caldeirada (com choco e lula), peixe assado no forno, peixe-espada grelhado e filetes fritos.

A análise conclui também que os fritos têm um peso excessivo (30 por cento) nas refeições escolares ficando à frente dos estufados/guisados (32 por cento), dos assados (26 por cento) e dos cozidos e grelhados (seis por cento).

Relativamente ao acompanhamento do prato principal, as batatas são "rainhas" (43 por cento) em detrimento do arroz, da massa e dos legumes.

Apesar das muitas possibilidades de confecção, na maioria das cantinas esta opção é utilizada entre duas a cinco vezes em três semanas quando o mais conveniente é, no máximo, uma vez naquele mesmo período.

As massas, que poderiam ser consumidas mais do que uma vez por semana, não são uma prioridade na maioria das cantinas e as leguminosas situam-se em último lugar, uma vez que poucas ementas contemplam acompanhamentos como feijão ou grão cozidos.

Apenas em nove por cento das escolas, os legumes fazem parte da refeição diária e, entre os legumes cozidos, incluem-se os usados nas jardineiras, saladas russas e arroz à valenciana.

Para a sobremesa, 60 por cento dos refeitórios analisados servem fruta crua (maçã, pêra, banana), mas também apresentam como opção doces como o leite-creme, o arroz-doce, a mousse ou a gelatina, todos com alto teor de açúcares.

Uma das notas positivas do estudo vai para o facto de a sopa estar sempre presente nas ementas das cantinas escolares analisadas.

Os legumes são a sua principal componente (77 por cento), embora, por vezes, em pouca quantidade, mas já as leguminosas (grão, feijão, favas e lentilhas) não fazem parte da grande maioria das sopas.

Pouco mais de 40 por cento das escolas que integraram o estudo serviu este tipo de sopa três vezes ou mais em três semanas.

Os caldos (canja de galinha, sopa de peixe ou de cozido) são a opção menos frequente (seis por cento), uma escolha aprovada pelos técnicos uma vez que estas sopas não têm fibras nem legumes.

Nas ementas analisadas, os ovos ocupam um lugar secundário nas refeições escolares: em cerca de 80 por cento nunca foi servida uma única refeição com ovos e quando fazem parte da ementa são acompanhados com salsichas, fiambre e atum.

Outro dado positivo é o facto de 60 por cento das escolas não servirem pizzas, salgados e afins.

De acordo com dados do Instituto da Inteligência (organismo privado de investigação e serviços de Psicologia Educacional e Clínica), as gorduras que actualmente as crianças ingerem na sua alimentação diária podem comprometer seriamente a função cognitiva e, consequentemente, as aprendizagens escolares.

Não é apenas a obesidade em si mesma que é prejudicial ao organismo, porque até as crianças magras, que habitualmente comem também muitos produtos saturados de gordura, são susceptíveis de acusarem dificuldades de concentração, raciocínio e memória devidas aos desequilíbrios alimentares.

Segundo o Instituto, as gorduras saturadas (que aparecem, por exemplo, nas margarinas e nos bolos) fazem com que os neurónios tenham mais dificuldade no seu trabalho e possam muitos deles ser eliminados devido à produção de radicais livres (substâncias tóxicas que conduzem ao envelhecimento e à morte das células).

Uma alimentação equilibrada, com muitos vegetais, água, peixe e alguma carne, deve ser, durante todo o ano lectivo, a dieta daqueles que querem ter sucesso na escola, além de uma actividade física regular, horas limitadas nos jogos electrónicos e uma agenda bem organizada de actividades, acrescenta.


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