Investigadores consensuais sobre papel dos "media" no fomento de sentimento de insegurança

por Lusa

Redação, 07 out (Lusa) -- Vários investigadores ouvidos pela Lusa afirmaram que a influência dos meios de comunicação sobre a sensação de insegurança da população é significativa e criticaram o tratamento dado a vários atos pelos "media".

Para o investigador e doutorado em Criminologia José Pires Leal, a perspetiva de insegurança "depende do capital escolar que as pessoas têm, da capacidade de se questionarem sobre a informação a que estão sujeitas, de não a beberem como uma verdade insofismável".

Luís Fernandes, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, destacou o "grande consenso" que existe sobre a "importância que os meios audiovisuais têm na criação do sentimento de insegurança", com exemplos concretos como o caso do "arrastão" de Carcavelos em 2005, cujas "ondas de choque não se teriam verificado" sem a televisão.

Já o professor da Escola da Polícia Judiciária Eduardo Viegas Ferreira refere: "Não se pode nem deve esperar que a comunicação social forneça toda a informação necessária para a construção de modelos descritivos e interpretativos robustos para a criminalidade -- nem que contribua para um melhor ajustamento entre realidade criminal e receio do crime".

José Pires Leal realça que uma maior educação no que diz respeito ao consumo mediático podia levar a que as pessoas conseguissem assimilar de forma mais crítica aquilo que lhes é exposto.

"Há pessoas que veem muita televisão, mas que se perguntam se será mesmo assim. Não se fará aqui uma escolha de notícias e se concentra aqui uma carga de negatividade que, se não tivermos cuidado, diz que a sociedade portuguesa é caótica?", questionou Pires Leal.

Eduardo Viegas Ferreira, autor do livro "Crime e Insegurança em Portugal: Padrões e Tendências, 1985-1996", considera que "a manipulação de informação sobre `crimes` e sobre `criminosos` é outra questão. `Infiéis`, `judeus`, `feiticeiros e feiticeiras`, `ciganos` e `minorias` em geral foram e provavelmente continuarão a ser utilizados como bodes expiatórios para explicar disfunções sociais, económicas e políticas para as quais pouco ou nada contribuíram ou contribuem."

O professor da Escola da Polícia Judiciária exemplifica com os casos da temporada de fogos e defende que "a `glorificação` do criminoso e do seu ato não ajuda muito à prevenção do crime".

"Transformar um crime e um criminoso em algo de `fascinante` é um mau serviço -- denunciar a falta de apoio à vítima e glorificar uma vítima que apesar de tudo sobreviveu, ao `criminoso` e à sociedade, talvez seja um melhor serviço", considera Eduardo Viegas Ferreira.

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