"Não estamos sozinhos"

por Rosário Lira - RTP
Antena 1

As Jornadas Mundiais da Juventude começam na quarta-feira em Cracóvia, na Polónia. Participam quase 336 mil jovens provenientes de 187 países. Portugueses são três mil. Três destes jovens estiveram com o site da RTP e deram a conhecer as suas expectativas, objetivos e experiências. Querem estar com outros como eles, católicos, querem vir com o "copo cheio" e garantem que não vão para um "festival de verão onde a estrela de cartaz é o Papa Francisco". Vão partilhar, rezar e ficar atentos aos sinais.

Joana, João e Ana Rita encontraram-se pela primeira vez na RTP. Não se conheciam mas tem muito em comum. Partilham a mesma fé e vão no mesmo local, durante a próxima semana, no Encontro Mundial da Juventude, em Cracóvia, na Polónia. São jovens católicos convictos de que podem mudar o mundo com pequenos gestos. Nas jornadas, garante Ana Rita, "a sensação é fabulosa de podermos ver que não estamos sozinhos" de constatar, como adianta Joana, que não somos os únicos que acreditam porque "vão estar imensos jovens que tem a mesma fé".

Mas porque é que se sentem assim? É preciso ir a Cracóvia para isso acontecer? Apesar de não existirem restrições à pratica da sua fé em Portugal e de ao contrário do que se passa com outros jovens, noutros países, não serem perseguidos, estes portugueses confessam que muitas vezes se sentem como estranhos juntos dos amigos ou no trabalho.

Ana Rita explica melhor: "Até na escola. Eu sentia-me muito reprimida por dizer que era católica porque parecíamos aberrantes, pessoas do século passado, pessoas que não conseguiam ver o progresso. Estar lá com outros iguais conforta-nos um bocadinho. O que é verdade é que nós somos jovens iguais a todos. O Papa João Paulo II dizia que queria santos que bebessem coca cola, que usassem ténis e calças de ganga e nós somos assim". 

A jovem dentista acrescenta: "Às vezes é muito fácil desmoralizar no nosso mundo. Eu no meu trabalho cada vez que digo que vou por férias para ir à Polónia no verão ter com o Papa, as pessoas riem e dizem que sou louca. Mas é essa loucura que me faz viver e é o que me motiva a saber que me levanto e que quero que cada dia seja melhor do que o anterior".
"Em oração constante"

João coloca a questão num patamar diferente e enquadra-a na descristianização da Europa que tem vindo a acentuar-se desde o final do século XX e que se reflete em tudo na sociedade, por isso, para este jovem médico "viver um evento como a jornada da juventude é antecipar uma semana de vida eterna em que toda a gente está em sintonia com o Papa e o grande desafio depois é transportar essa alegria para contagiar as pessoas à nossa volta".

Joana pertence à paróquia de Benfica, João à de Queijas e Ana Rita vai a Cracóvia integrada no grupo do Caminho Neocatecumenal.

Os três sabem com rigor o que procuram. "Esta semana passada em oração constante e em intimidade com Deus, enche-nos o copo. Enche-nos o coração para podermos vir e transbordar aquilo que encheu", refere Ana Rita, que parte para o terceiro encontro depois de ter estado em Madrid e em Colónia, com Bento XVI.
"Mais do que um festival"

Para Ana Rita, Ratzinger tinha a profundidade da palavra, Francisco tem a proximidade aos jovens. Mas desengane-se quem acha que estes jovens vão apenas atrás do Papa. João desmistifica: "Esta jornada é mais do que um festival de Verão em que o Papa é o cabeça de cartaz. É muito mais do que ir ao encontro do Papa. É um encontro pessoal com Jesus Cristo e um aprofundar a intimidade dessa relação".

No entanto, Joana, 19 anos, estudante de Ciências da Saúde tem grande expectativa em conhecer o Papa com quem nunca esteve: "Eu acho que o Papa Francisco é muito simples, mas ao mesmo tempo é muito rico. Fala com os jovens dizendo que nós somos o futuro da Igreja e, não sei explicar, a energia que ele transmite com cada palavra, com cada carta que nos dirige é tão grande que me faz querer estar lá com ele".

Esta é a primeira vez que Joana vai a um encontro mundial da juventude. Este ano, umas jornadas dedicadas a um Papa, João Paulo II que morreu ainda ela era criança. Mas Joana garante que se lembra dele e de como tinha "uma presença querida" e uma "cara feliz". Karol Wojtyla, no seu país, será recordado por estes jovens como apóstolo da Misericórdia e artífice das jornadas.
Portugal, nono país em participantes

Quase 336 mil peregrinos de 187 países participam nas Jornadas Mundiais da Juventude. Portugal é o nono país com mais participantes. Espera-se que estejam presentes 3000 jovens portugueses.  E é nesta diversidade de culturas e de formas de celebrar a fé que João quer encontrar respostas para viver a sua fé de forma mais madura e transpor esses ensinamentos para a sua comunidade, onde também existem pessoas muito diferentes.

De resto todos reconhecem que quando partem para estas jornadas, é preciso estarem atentos aos sinais. Na mala levam dúvidas relacionadas com a vocação ou com a forma de transmitirem a mensagem da sua fé ao mundo e esperam trazer respostas. Ana Rita não tem dúvidas ao afirmar que regressa sempre destes encontros com as "armas e as ferramentas" que a fazem encarar o dia à dia de outra forma mas isso acontece, admite, porque ali, todos juntos, estão mais abertos e mais atentos aos sinais que podem vir da palavra de um amigo, das leituras na eucaristia ou das vigílias com o Papa. A este propósito lembra uma vigília com o Papa, em Madrid, durante a qual se abateu uma tempestade sobre o local onde encontravam e o Papa ali ficou com eles, aguentando o tempo todo os efeitos do temporal. Ana Rita percebeu naquele momento que perante as adversidades nunca devemos desistir.

João que também participou no encontro de Madrid em 2011, concorda que "é mais fácil estar desperto para os sinais" num ambiente de oração mas admite que procura respostas mas muitas vezes traz ainda mais perguntas". Este ano não sabe se será assim. 

O primeiro grupo português a chegar à Polónia é composto por 92 jovens que vêm das dioceses de Aveiro e de Viana do Castelo.

Dia 27 realiza-se a festa nacional dos portugueses na Polónia, a LusoFesta, organizada pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, com a presença dos seis bispos portugueses presentes, dos jovens participantes nas Jornadas Mundiais da Juventude e dos portugueses que residem na Polónia. 

De regresso a casa, Joana vai fazer a mala porque parte já amanhã. João e Ana Rita irão seguir o mesmo caminho nos próximos dias. Depois da entrevista na RTP, o próximo encontro destes três jovens será em Cracóvia, na Polónia, onde vão estar como se fosse em casa, na comunhão com os outros, iguais a si, aqueles que partilham uma fé comum. Aqueles que se assumem e são católicos.  
Tópicos
pub