Obama afiança que ainda não se decidiu sobre "tiro de aviso" à Síria

por RTP
Jason Reed, Reuters

O Presidente dos Estados Unidos afiança agora que ainda não tomou uma decisão final sobre a Síria, mas afirma-se convencido de que o regime é responsável pelo alegado ataque com armas químicas nos arredores de Damasco. Entrevistado na estação PBS, Barack Obama avisou que o uso de agentes químicos afeta os interesses nacionais norte-americanos e considerou que “um tiro de aviso” poderá ter consequências positivas para o conflito sírio. Há, entretanto, uma data oficial para a saída dos peritos das Nações Unidas do país de Bashar al-Assad: sábado.

Na entrevista ao programa PBS Newshour, Barack Obama aparece como cauteloso e disposto a retirar o pé do acelerador, adiando, pelo menos por alguns dias, o início das hostilidades que alguns observadores já vinham dando como certo até ao final desta semana.

Mas isso não significa que o regime de Bashar al-Assad possa respirar de alívio, pois o Presidente americano rejeitou expressamente a versão de Damasco de que foram os rebeldes que levaram a cabo o ataque com gases tóxicos.
Obama acusa governo sírio
“Atendendo ao tipo de sistemas que foram utilizados, rockets, não acreditamos que a oposição pudesse ter efetuado estes ataques. Concluímos que foi de facto o governo sírio que os levou a cabo e se assim foi tem de haver consequências internacionais”, disse Obama.

Questionado sobre qual seria a utilidade de um ataque limitado à Síria, Obama disse que serviria para enviar a Assad “um sinal forte“ de que não deve usar novamente armas químicas.
Congressistas querem ter uma palavra a dizer
As declarações do Presidente norte-americano ocorreram no mesmo dia em que foi publicada uma carta aberta do presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, pedindo a Obama que explique “qual o efeito esperado“ de um eventual ataque à Síria e como tenciona impedir que o mesmo degenere numa escalada militar.

Outra carta, assinada por 110 membros do Congresso, pede entretanto ao Presidente que procure obter o apoio do Congresso para qualquer ação que venha a ser tomada.

Está previsto que esta quinta-feira responsáveis do governo se reúnam com  membros destacados do Capitólio num encontro confidencial, para os pôr a par das provas respeitantes ao ataque químico por parte do governo sírio.
Rússia e China batem com a porta
Na quarta-feira o Conselho de Segurança da ONU teve uma sessão tumultuosa, com a Rússia e a China a abandonarem a sala quando se tornou claro que a Grã-Bretanha ia avançar com um projeto de resolução que visava autorizar o uso de força contra a Síria.

O Departamento de Estado norte-americano já veio a público criticar a “intransigência russa”, dizendo que não se pode permitir que a paralisia diplomática sirva de escudo para a liderança síria.

Moscovo é um dos mais próximos aliados do Presidente sírio Bashar al-Assad e recusa-se sequer a discutir a questão no Conselho antes da conclusão da missão de peritos da ONU que está na Síria a investigar o ataque.

Os Estados Unidos ainda não tornaram públicas as provas que dizem ter sobre a utilização de armas químicas por parte de Damasco. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apelou a que seja dado tempo suficiente aos inspetores das Nações Unidas para fazerem o seu trabalho.
Inspetores abandonam a Síria no sábado
Ban ki-moon disse que os inspetores necessitam de mais 72 horas para terminar a sua tarefa e tudo indica que deixarão a Síria no próximo sábado, apesar de Damasco ter enviado uma carta à ONU em que pedia um prolongamento da missão para além do fim de semana.

Os EUA já excluíram qualquer operação unilateral na Síria e dizem que só avançarão se contarem com os seus aliados. Isto não constitui um problema, já que França, Grã-Bretanha, Turquia e vários países árabes se mostram dispostos a apoiar uma ação de força.

No entanto, o envolvimento de Londres e Paris implica algumas demoras. Depois de falar com Obama, o Presidente François Hollande disse que “a França está pronta a castigar os que tomaram a decisão de gasear estas pessoas inocentes”. Mas só na próxima semana é que o Parlamento francês se reunirá para discutir a situação na Síria.
Grã-Bretanha concorda em esperar por inspetores
Em Londres, o Parlamento britânico reúne-se esta quinta-feira para votar uma moção que exclui expressamente qualquer ataque militar à Síria até que os inspetores das Nações Unidas apresentem as suas conclusões ao Conselho de Segurança.

Depois de os inspetores apresentarem o seu relatório, os parlamentares britânicos deverão voltar a reunir-se para realizar outro voto, estabelece a moção que será votada.

O governo britânico não ignora que a Rússia e a China bloquearão qualquer decisão contra a Síria no Conselho de Segurança, mas considera essencial que o assunto seja discutido para que a diplomacia seja respeitada. No entanto, Estados Unidos e aliados já deixaram claro que uma opção militar continua a ser uma opção. Com ou sem o beneplácito das Nações Unidas.
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