Operação Matrioskas desmantelou presumível célula da máfia russa

por Cristina Sambado - RTP
Pedro A. Pina - RTP

A Europol anunciou que a Operação Matrioskas, conduzida pela Polícia Judiciária com o seu apoio, permitiu desmantelar uma presumível célula de uma importante rede mafiosa russa, responsável pelo branqueamento de “muitos milhares de euros” desde 2008.

Em comunicado, o Serviço Europeu de Polícia adianta que o grupo mafioso russo é alegadamente responsável pela lavagem de vários milhões de euros em numerosos países da União Europeia, através do sector do futebol.

Segundo a Europol, “o modus operandi do grupo passava por identificar clubes de futebol em dificuldades financeiras, e infiltrá-los com benfeitores que forneciam doações ou investimentos a curto prazo”.

Depois de ganharem a confiança, através das doações, os mesmos benfeitores orquestravam a compra dos clubes”, através de “testas de ferro de redes opacas e sofisticadas”, quase sempre com empresas registadas em offshore e paraísos fiscais.

“Assim, os verdadeiros proprietários e aqueles que controlam o clube permanecem não identificados, assim como a verdadeira origem dos fundos utilizados” para comprar os clubes. Ao longo da investigação, “foram reunidas provas sólidas que demonstram que este grupo criminoso de dedicava à prática de crimes de branqueamento, fraude fiscal, corrupção e falsificação de documentos”

Depois de os clubes estarem sob o controle da máfia russa, eram usados para a lavagem de dinheiro sujo, através de operações como transferências de jogadores, com a sobre ou subvalorização destes, e negociações de direitos televisivos, assim como para atividades em torno de apostas, tanto para o simples branqueamento de capitais como para a manipulação de resultados.

Ao usar este modus operandi e após uma série de doações e investimentos, o grupo comprou, em julho de 2015, a União de Leiria, clube que tinha competido na principal liga de futebol português, até que enfrentou dificuldades financeiras em 2012 e se viu relegado para a II liga.

Segundo a Europol, a investigação começou em 2015, “após a deteção de uma série de sinais fortes a apontar para os suspeitos. Em particular os altos padrões de vida dos mesmos, que importavam grandes quantidades de dinheiro da Rússia para Portugal, em violação às regras da União Europeia”.

"O mau uso de empresas offshore para esconder o usufruto de bens ainda é um dos principais desafios para investigações financeiras de sucesso estas barreiras podem impedir as tentativas dos investigadores para investigar a origem do dinheiro, muitas vezes criminosa, que é reinvestido em sectores propensos a essa infiltração. O sector de futebol apresenta vulnerabilidades relacionadas com a sua estrutura, modelo de financiamento e de cultura que pode ser explorada por criminosos", considera Igor Angelini, chefe do serviço de informações financeiras da Europol, que tem sede em Haia.
Investigação “complexa e desafiadora”
A operação da passada terça-feira envolveu mais de 70 polícias portugueses apoiados por peritos da Europol e foi o resultado de mais de um ano de uma investigação internacional “complexa e desafiadora”.

O resultado foi a detenção de três presumíveis membros-chave desta rede criminosa organizada: o presidente da SAD da União de Leiria, Alexander Tolstikov, um assessor do empresário russo e o diretor financeiro da mesma sociedade, que são esta quinta-feira, submetidos a um primeiro interrogatório judicial.

Além dos três detidos, foram ainda constituídos arguidos a SAD e o clube União de Leiria e um advogado com escritórios em Lisboa.

As buscas da PJ e da Europol decorreram em 22 casas e empresas, incluindo quatro grandes clubes de futebol (Benfica, Sporting, Sporting de Braga e União de Leiria), escritórios de advogados e de contabilidade. Vários milhares de euros em dinheiro foram apreendidos, a maior parte em notas de 500 euros.

Simultaneamente, o grupo preparava diversos crimes transnacionais, apontando o Serviço Europeu de Polícia que foram identificados vínculos a práticas de crime organizado na Áustria, Estónia, Alemanha, Letónia, Moldávia e Reino Unido.
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