Portugal escapará a sanções, antevê Silva Peneda

por Maria Flor Pedroso

Foto: RTP

O antigo ministro Silva Peneda está convicto de que Portugal não será sancionado por défice excessivo pelas instâncias europeias. Declarações feitas em entrevista à Antena 1.

Silva Peneda, agora consultor informal do presidente da Comissão Europeia - foi consultor especial de Junker durante este ano -, aposta que não vai haver sanções para Portugal, por muito que muitos queiram.

"E porque eu sei que o presidente da Comissão não aceitará isso. É uma convicção minha. Podia apostar 100 contra 1!", afirmou na entrevista conduzida pela editora de Política da rádio pública Maria Flor Pedroso.

O antigo número um do Conselho Económico e Social garante também que, nos gabinetes de Bruxelas, a geometria do Governo português não tem qualquer influência.
"Por vergonha"

Silva Peneda foi governante de Sá Carneiro e de Cavaco Silva. Revela, nesta entrevista, que por duas vezes o anterior Presidente da República o convidou para integrar a administração da Caixa Geral de Depósitos.

"Não quis por vergonha, fui quadro da CCDR Norte, entendi que devia voltar. Agora, mais um que veio para aqui com um tacho porque foi ministro, e entendi que essas acusações até eram justas. Sentia-me desconfortável".

Silva Peneda discorda da Comissão Parlamentar de inquérito à Caixa (CPI) que o PSD e o CDS impuseram. Esta CPI nasce com uma divisão e quando assim é "normalmente transforma-se numa chicana parlamentar, preferia uma auditoria forense porque tenho dúvidas acerca da eficácia dos resultados do inquérito".

Mas o ex-ministro considera "que algo vai mal no sistema financeiro, tem que se antecipar e tem que se pensar muito bem que tipo de supervisão é feita".

"Em sete anos, quatro bancos falidos: BPN, BPP, BES, BANIF e agora CGD, que se não for recapitalizada passa dificuldades", sublinhou.
Disponível para o CES

Nesta entrevista à Antena1, Silva Peneda diz de forma clara que já houve conversas com o PS sobre um eventual regresso à presidência do Conselho Económico e Social. O mesmo não aconteceu com o PSD. E Silva Peneda só estará disponível se também os social-democratas propuserem o seu nome.

Confessa que "neste momento não tem grandes motivações para participar no PSD". Diz ter "as quotas em dia, um pensamento político e uma ideia para o país". E disputar a liderança? "Depende de um conjunto de circunstâncias, mas não estou a dizer isso".

Na perspetiva de Silva Penda, o PSD só se consegue impor quando interpreta os anseios da classe média e isso não tem acontecido: "Ou o PSD tem a capacidade, a energia e alegria para pôr a classe média a sonhar ou dificilmente volta a ser poder".
O referendo no Reino Unido

Quanto à possibilidade de o Reino Unido deixar a União Europeia, Silva Peneda afirma que já só resta esperar. Mas vai advertindo que quem está de fora quer os britânicos na União. E há quem diga que este é o julgamento da globalização.

Silva Peneda entende que este referendo começou sem necessidade, a partir de uma questão interna que acaba por condicionar a Europa e o mundo.

Considera mesmo que pode ser o primeiro passo para o fim de um projeto que garantiu a paz durante 60 anos. E que os referendos sobre este tipo de matérias não fazem sentido. São populismo e demagogia. 

Num registo fotográfico da história recente, Silva Peneda resume três crises simultâneas que considera serem sistémicas na Europa: o reformado grego na bicha do multibanco; a criança morta numa praia da Turquia e os tanques no centro de Bruxelas.
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