Portugal regista qualidade de morte acima da média

por João Ferreira Pelarigo, Sara Piteira - RTP
Um paciente idoso espera para ser atendido nos cuidados paliativos de um hospital nas Honduras Jorge Cabrera, Reuters

Um relatório da Unidade de Investigação do Economist sobre o Índice de Qualidade de Morte em 2015 mostra que Portugal está entre os 25 países com melhor nota na assistência a pessoas em final de vida. Entre 80 países avaliados em cinco categorias, o Reino Unido lidera a tabela e o Iraque é o que pior assistência emprega na fase da morte.

O estudo acerca dos cuidados paliativos no mundo teve em consideração 20 indicadores qualitativos e quantitativos, divididos em cinco categorias. Foram avaliados o ambiente paliativo e de cuidados de saúde, os recursos humanos, a acessibilidade aos cuidados, a qualidade dessa assistência e o nível de envolvimento das comunidades.

Para a construção do Índice de Qualidade de Morte, foram consultados dados de cada um dos 80 países e foram entrevistados especialistas em saúde e cuidados paliativos. Em Portugal, foi entrevistado o médico José António Ferraz Gonçalves, do Instituto Português de Oncologia.

É crescente o número de idosos em relação à população total de cada país. As melhorias nas infraestruturas e o desenvolvimento da medicina têm feito aumentar a esperança média de vida em todo o mundo, tornando-se fulcral o apoio de qualidade às pessoas em fase final de vida.

Contudo, apesar das melhorias, o relatório mostra que há ainda falhas nesta área da saúde. Segundo os resultados do Economist, é o Reino Unido o país que tem o melhor índice de qualidade de morte, uma tendência que é seguida pela maior parte dos países mais ricos.



Portugal ocupa a 24ª posição, com uma avaliação de 60,8 pontos, numa escala de 0 a 100. A média obtida a partir dos resultados dos 80 países é de aproximadamente 48,5 valores, o que permite concluir que Portugal regista uma qualidade de morte acima da média.

No geral, o nível de rendimento é um forte indicador de avaliação e qualidade do sistema de cuidados paliativos de um país, sendo que os mais ricos lideram a tabela. Nações europeias dominam o top 20.

São várias as características que os países com melhor qualidade de morte partilham. Todos têm implementado um eficaz enquadramento nacional de cuidados paliativos, elevados gastos públicos em saúde, fortes recursos de ensino em cuidados paliativos para profissionais de saúde, subsídios de apoio a doentes que necessitem de acompanhamento paliativo, acesso a medicamento opiáceos e uma forte consciencialização junto das comunidades da importância dos cuidados paliativo.

O país que regista o índice mais baixo é o Iraque, onde a prestação de cuidados paliativos é avaliada com 12,5 valores, na mesma escala.

A investigação conclui que os países mais pobres podem melhorar os níveis de assistência na morte rapidamente. Muitos dos países em vias de desenvolvimento são fracos no que diz respeito ao fornecimento de cuidados básicos devidos às limitações nas infraestruturas e pessoal especializado, mas ainda assim demonstram progressos na inovação e iniciativa individual, como são exemplo o Panamá e a Mongólia.
Indicadores de melhoria
De acordo com o estudo do Economist, é possível concluir que há alguns procedimentos que, quando aplicados, melhoram substancialmente o índice dos países. São, também, esses elementos que fazem com que alguns dos países subdesenvolvidos estejam tabelados acima de alguns países ricos.

Por exemplo, o acesso a um ensino especializado em cuidados paliativos para médicos e enfermeiros permite que os países forneçam um melhor cuidado aos doentes.

Nos países mais desenvolvidos, como no Reino Unido e na Alemanha, a especialização em assistência paliativa é um pré-requisito para ambas as qualificações.

"O grande problema que persiste é que os sistemas de saúde estão desenhados para promover cuidados agudos quando nós precisamos de cuidados crónicos. Esse é o caso em quase todo o mundo", sublinha o médico inglês Stephen Connor, destacando a necessidade de haver assistência paliativa continuada e não apenas esporádica.

Por outro lado, os subsídios para os serviços de assistência em fase final de vida revelam-se também fundamentais para se obter tratamentos acessíveis. Sem esses apoios financeiros, muitos doentes não acedem aos tratamentos adequados.

Países que não permitem o acesso a opiáceos e a acompanhamento psicológico no decorrer dos tratamentos também se revelam mais fracos e, por isso, ocupam lugares mais baixos na lista.

As pessoas precisam também de ser encorajadas a falar sobre a morte de forma a terem acesso a informações precisas sobre os cuidados paliativos. Neste caso, o envolvimento da comunidade revela-se imprescindível.

O uso da televisão, da imprensa e das redes sociais pelos Governos e pelas organizações não-governamentais, por exemplo no Brasil, Grécia e Taiwan, mostrou-se um importante apoio na integração da consciência dos cuidados paliativos.
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