António Costa promete moderação e "Governo de garantias"

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
João Relvas - Lusa

Um “tempo novo para Portugal”, com o virar de página da austeridade, mas sem negar as dificuldades do caminho. O novo primeiro-ministro quis centrar o discurso de tomada de posse no futuro, apelando ao fim da crispação política. António Costa promete que a atuação política vai ser caracterizada pela moderação, mas também pelo cumprimento de garantias: do Estado de Direito, dos compromissos internacionais e da estabilidade.

“Não é de crispação que o país precisa, mas sim de serenidade. Não é altura de salgar as feridas, mas sim de sará-las", declarou António Costa já no final do seu discurso, após o Presidente da República o ter empossado primeiro-ministro do XXI Governo Constitucional.

“Não progredimos com radicalizações”, afirmou António Costa na cerimónia no Palácio da Ajuda e perante Pedro Passos Coelho e Paulo Portas na assistência. O novo primeiro-ministro garante que o novo Executivo vai pautar a sua atuação pela “moderação”, como uma “alternativa realista e prudente”.

"Moderado será o seu programa, realizando uma alternativa à vertigem austeritária - que só agravou os problemas económicos, sociais e mesmo orçamentais - mas será uma alternativa realista, cuidadosa e prudente. E moderada será a sua atitude", argumentou o novo líder do Executivo.

“Este é um tempo novo para Portugal e os portugueses”, afiançou Costa, dirigindo-se a Cavaco Silva para dizer que “a democracia é sempre capaz de gerar alternativas”.

Um “tempo novo” para o combate à pobreza e às desigualdades, o “virar de página da austeridade” que os socialistas têm garantido. Um tempo do “reencontrar das prioridades governativas com os projetos de vida dos portugueses”, garante o líder do PS.

António Costa, no entanto, não deixou de agradecer ao primeiro-ministro cessante. “Queria dar o público reconhecimento da dedicação e esforço de Pedro Passos Coelho, naquela que era a sua convicção do que era o interesse nacional”.

Um agradecimento nas palavras finais do discurso. Pedro Passos Coelho e Paulo Portas não aplaudiram.
Governo de garantia
Já antes, António Costa tinha pautado a intervenção da Ajuda pelas referências à estabilidade deste Governo no horizonte da legislatura.
Comprometeu-se com a “máxima cooperação e respeito” pelo Presidente da República e garantiu que este será um “Governo de garantia”: do Estado de Direito democrático e da constituição; dos compromissos internacionais e da estabilidade.

No dia de tomada de posse, António Costa defendeu que todos devem assumir por inteiro as suas responsabilidades.
Sociedade mais pobre e desigual
António Costa diz “confiar à História” a análise da política dos últimos anos e a questão de saber se haveria alternativas. A ele cabe agora falar do futuro.

No entanto, o novo primeiro-ministro não deixou de afirmar que os últimos anos “deixarão marcas - e marcas profundas - ainda por muito tempo”.

“Não se pode ignorar é que, depois de tantos sacrifícios, a sociedade está hoje mais pobre e desigual, a economia mais enfraquecida no seu potencial de crescimento e o país mais endividado", advogou Costa.

“As reformas que temos de fazer são outras”, argumentou o secretário-geral socialista, defendendo apostas como a sociedade do conhecimento, a política do mar e uma visão transversal da dinamização administrativa.
Bases mais sãs e sustentáveis
Para António Costa, a linha de orientação do novo Governo será a de alteração das políticas, o crescimento assente em “bases mais sãs e sustentáveis”, considerando estar à altura desse desafio.

Defendeu novamente o “virar de página da austeridade” e apelou à mobilização dos portugueses para um triplo propósito: mais crescimento, melhor emprego e maior igualdade.

O líder socialista disse ainda que “todos os deputados contam” e que a sociedade já esteve tempo de mais “refém da exclusões de facto” de forças políticas que limitavam o leque de soluções políticas e "defraudavam o sentido de voto" de muitos portugueses.

Na ótica do novo primeiro-ministro, este Governo vem valorizar o pluralismo parlamentar.

"O Governo provém da Assembleia da República e é perante a Assembleia que responde politicamente. É preciso, por isso, que a formação e a orientação programática do Governo respeitem a sua composição e realizem os compromissos que essa composição ao mesmo tempo exige e permite", frisou o novo primeiro-ministro.
“Este não é um Governo temeroso”
António Costa balizou logo no início do discurso as condicionantes da atuação do Governo.

“Não ignoro e não minimizo as muitas dificuldades que temos pela frente, (…) mas o Governo que aqui toma posse não é temeroso com o futuro ou preso de movimento ante a dimensão das tarefas”.

“Este é um governo confiante. Confiante no projeto mobilizador do país e solidariedade da maioria parlamentar que lhe confere plena legitimidade”, assegurou o sucessor de Passos Coelho.
Tópicos
pub