Costa justifica salários milionários na Caixa com gestão profissional

por Sandra Salvado - RTP
António Costa, ao lado do presidente da federação socialista de Lisboa, Marcos Perestrello, intervém numa sessão de esclarecimento sobre o Orçamento do Estado no Teatro São Luiz Miguel A. Lopes - Lusa

Depois de ter contornado o tema dos salários milionários na Caixa Geral de Depósitos (CGD), conhecidos há dois dias, o primeiro-ministro não teve outro remédio senão responder a uma militante do PS, que manifestou indignação perante uma plateia de centenas de socialistas que esperavam explicações sobre o Orçamento do Estado para 2017. António Costa respondeu que a questão dos vencimentos pode ser “impopular” mas não arrisca “a má gestão na CGD”, que não pode concorrer em condições de mercado inferiores aos outros bancos.

"É uma vergonha [o salário do Presidente da CGD]. É uma afronta a quem tem pensões muito pequenas e até ao senhor que é primeiro-ministro e que com certeza não ganha aquilo. Interrogo-me: como é que é possível uma pessoa ganhar tanto dinheiro assim?”."Se queremos uma Caixa profissionalmente gerida, com capacidade técnica e independência, para que não sofra pressões do acionista, temos de oferecer aos gestores da CGD as mesmas condições que têm os gestores dos outros bancos".

Foi com estas declarações que António Costa foi apanhado de surpresa no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, esta quarta-feira à noite, quando participava numa sessão de esclarecimento sobre o Orçamento do Estado para 2017, organizada pela Federação da Área Urbana de Lisboa do PS.

O primeiro-ministro admitiu que a sua posição sobre esta polémica até pode ser impopular, mas defendeu-se: “Eu não arrisco a má gestão na CGD (…) Se queremos uma Caixa profissionalmente gerida, com capacidade técnica e independência, para que não sofra pressões do acionista, temos de oferecer aos gestores da CGD as mesmas condições que têm os gestores dos outros bancos".

E acrescentou: "Caso contrário, estamos a ter um banco, um banco que é nosso, que é de todos nós, a concorrer em condições no mercado inferiores aos outros bancos".

O primeiro-ministro argumentou ainda que "a CGD concorre no mercado com todos os outros bancos e tem de trabalhar no mercado como trabalham os outros bancos. Não é possível que a administração da Caixa tenha ordenados alinhados pelo vencimento do primeiro-ministro e não pelo vencimento que é normal no quadro da banca. Infelizmente para o primeiro-ministro, o ordenado do primeiro-ministro é muito inferior ao ordenado que existe na banca, mas não me queixo, porque escolhi estar aqui".

António Costa continuou a sua defesa para dizer que a estabilidade e o fortalecimento da Caixa davam muito trabalho a conseguir e eram essenciais para todos: “Por isso, o que quero é uma gestão capaz, competente e funcional”.
“Não é assunto encerrado”
Os salários dos gestores do banco público dividem Governo e partidos que o apoiam. No Parlamento, António Costa teve ontem de ouvir os avisos de Catarina Martins. O primeiro-ministro acabou por não responder à intervenção da coordenadora do Bloco de Esquerdo. Na bancada do PSD foram visíveis os sorrisos.

"O salário milionário dos administradores é pura e simplesmente inaceitável. Não vamos discutir, como a direita, se deve ser quatro ou cinco vezes o salário do primeiro-ministro. A Assembleia da República será confrontada novamente com esse tema. Para o BE, este não é assunto encerrado", advertiu Catarina Martins.

Patrícia Cracel, Carlos Valente - RTP (19 de outubro)

Costa optou então por não reagir às críticas sobre as remunerações do novo presidente (423 mil euros anuais e os vogais executivos 337 mil euros).

Já o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, recordou que a proposta de limitar os salários e privilégios dos gestores públicos ao nível do salário do chefe do executivo foi chumbada em sede de comissão parlamentar com os votos contra de PS e PSD, "permitindo assim um farto aumento".
“Não é possível nem desejável”
São mais de 2,5 milhões que a Caixa Geral de Depósitos vai pagar aos novos administradores, uma fatura também criticada pelo Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa disse que "não é possível nem desejável" pagar aos gestores de um banco com dinheiros públicos o mesmo que se paga num banco privado. O Presidente até promulgou o decreto de lei do Governo que permite os aumentos, mas questiona os valores.

O assunto chegou ao plenário no dia em que foi chumbada uma proposta do PCP para limitar os salários dos gestores públicos, ao valor do vencimento do primeiro-ministro. PS e PSD votaram contra.

No entender dos socialistas o voto do PSD prova que, afinal, até concorda com o modelo seguido pelo Governo para os salários da Caixa. O PSD explicou que o voto é apenas contra a proposta do PCP e alinha nas críticas ao salário da Caixa.

Já o CDS votou ao lado do PCP e do Bloco pela limitação dos salários e criticou o chumbo da proposta.

Tópicos
pub