O fundador do Bloco de Esquerda Fernando Rosas criticou na convenção do partido uma "União Europeia [que] passou, em trinta anos, de esperança a pesadelo imperial" contra fracos e pobres.
Referindo-se ao referendo no Reino Unido, em que venceu o Brexit, Rosas disse que o povo britânico tem razão e que "não há que chorar" uma União do "neoliberalismo, das troikas, do desemprego, do acordo infame com a Turquia, das sanções, da austeridade, do euro, do autoritarismo, do espezinhar da soberania e democracia".
Também o dirigente bloquista João Teixeira Lopes apontou na sua intervenção o que disse ser o "embuste e farsa" em que se tornou o projeto europeu. Nesse sentido, acrescentou, "a posição do Bloco é clara" e passa por "esticar a corda" na defesa dos cidadãos e dos seus direitos.
Já Helena Pinto, ex-deputada e dirigente que preside aos trabalhos da X Convenção, antecipou o tema das autárquicas de 2017 e pediu mais "transparência na política local [e um] novo centro político às políticas locais", com o reforço do BE nesse capítulo.
"O Bloco não faltará à chamada" no sufrágio do próximo ano e também nas eleições regionais deste ano nos Açores, frisou.
Bloco é a garantia do acordo
O antigo coordenador Esquerda Francisco Louçã apontou o Bloco como "garantia" do acordo que suporta o Governo, mas advertiu que não recuará e que recusará deixar cair medidas.
Francisco Louçã tomou a palavra no Pavilhão do Casal Vistoso, numa intervenção muito aplaudida pelos delegados bloquistas, sobretudo quando frisou que o Bloco de Esquerda "é o único grande partido com as contas limpas no Tribunal Constitucional".
Sobre a relação do Bloco de Esquerda com o atual Governo, o antigo coordenador e atual conselheiro de Estado defendeu que o seu partido "é a garantia do acordo".
"Não falhamos, não recuamos, cumprimos e cumpriremos. Quem vive do seu salário e da sua pensão sabe que tem o Bloco de Esquerda. Damos uma certeza: medida a medida não andamos para trás, nunca deixaremos cair, e ai de quem deixar cair", avisou Francisco Louçã, mas sem especificar o destinatário do recado.
Neste contexto, em que traçou linhas vermelhas, Louçã deixou ainda a promessa do Bloco de Esquerda impedir privatizações e de se bater pelo "desmantelamento das rendas, porque é na desigualdade social que se tem de encontrar a correção e a política de uma esquerda que sabe responder".
"É na dívida que vamos buscar os recursos suficientes para os salários e pensões", completou, antes de salientar que, em janeiro próximo, o salário mínimo nacional será fixado em 557 euros por mês.
O fundador do Bloco de Esquerda caracterizou igualmente o seu partido como uma "garantia", porque representa "a luta social".
"O Bloco já fez a resolução do CDS"
Francisco Louçã apontou ainda um cenário de bipolarização política, quando enviou várias críticas às forças do anterior Governo.
"Não vos vou falar do CDS, porque o Bloco já fez a resolução do CDS e são águas passadas", declarou, pondo parte dos delegados a rir.
Francisco Louçã definiu depois o PSD como "o adversário imediato da grande disputa" do Bloco de Esquerda.
"Querem Passos Coelho e o partido das sanções contra Portugal, ou querem um Bloco em defesa do povo? Querem Maria Luís Albuquerque, para quem a política é a continuação da finança especulativa, ou querem um Bloco contra a especulação?", questionou, recebendo palmas.
Na sua intervenção, Francisco Louçã também aproveitou para deixar rasgados elogios a alguns dos principais elementos da direção do Bloco de Esquerda, a começar na porta-voz, Catarina Martins, que disse ter sido "protagonista da maior transformação da relação de forças em Portugal nos últimos 40 anos".
Numa mensagem para o interior do seu partido, Louçã elogiou ainda os resultados alcançadas pela eurodeputada Marisa Matias na última campanha presidencial, mas, também, logo a seguir, a ação do líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, em defesa da manutenção da Caixa Geral de Depósitos como banco público.
c/ Lusa