Oposição conclui que Passos governa como "caixa registadora" dos credores

por RTP
Na entrevista da noite de quinta-feira, Pedro Passos Coelho estimou que um eventual programa cautelar dispensa o apoio dos socialistas João Relvas, Lusa

Um primeiro-ministro que “governa para os mercados” e “passa à margem” da “dureza dos dias”, comportando-se como uma “caixa registadora da troika”, foi o que PS, PCP e BE viram na entrevista que Pedro Passos Coelho concedeu na última noite à TVI e à TSF. Um acontecimento mediático que serviu ao governante para dispensar a participação dos socialistas num eventual programa cautelar. Mas também para insistir no argumento de que as doses de austeridade aplicadas pelo seu Executivo são tributárias de um programa “mal calibrado”. E para pôr de parte qualquer compromisso no sentido de um alívio da carga de impostos, ou um calendário para a vigência dos cortes em salários e pensões.

A leitura socialista da entrevista de Passos Coelho à estação de Queluz de Baixo e à rádio TSF coube a Alberto Martins. E foi a partir da Assembleia da República que o líder parlamentar do PS sintetizou: “O primeiro-ministro comportou-se como gestor do programa da troika”.

Passos, acusou o dirigente socialista, num ensaio do que deverá ser o tom do debate quinzenal desta sexta-feira, revelou-se “um defensor da troika que não se preocupa sequer com as vítimas da política da troika”, um primeiro-ministro que “fala de Portugal e dos portugueses como se estivesse a fazer de caixa registadora da troika”.
“Julgo que o país acabou de ver um primeiro-ministro confiante, convicto, determinado e com um discurso muito sólido. Sabe o que quer e o que tem de fazer para o conseguir”, advogou o vice-presidente da bancada do PSD Carlos Abreu Amorim.


“Nada de concreto, nenhuma medida concreta, nenhuma medida construtiva para o futuro, nenhuma esperança para os portugueses, nada”, acrescentou Alberto Martins, que reprovaria ainda a posição de Passos Coelho sobre o pós-resgate financeiro, ao estimar que “só” para o atual primeiro-ministro “é que sair da crise e do programa de ajustamento recorrendo a um programa cautelar é um sucesso”.

Também o PCP considera que o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas demonstra que “não governa para os portugueses, governa para os mercados e os interesses financeiros”. Foi assim que o líder parlamentar comunista viu a entrevista da noite de quinta-feira.

“O povo português tem que arrancar este Governo, fazer com que este Governo seja demitido e convocadas novas eleições. O Governo que vá governar os interesses dos especuladores para outro lado, porque neste país este Governo já não tem espaço”, instou João Oliveira.

Pelo Bloco de Esquerda falou igualmente o líder parlamentar, Pedro Filipe Soares. Que tratou de apontar a falta de “uma resposta às pessoas que necessitavam de alguma esperança”. Pelo contrário, reprovou o responsável bloquista, “a realidade da vida das pessoas, a dureza dos dias, passou à margem deste entrevista, das respostas do primeiro-ministro”, que “pouco falou de desemprego”.
Programa cautelar dispensa socialistas

Na entrevista da última noite ficou claro que, para o primeiro-ministro, a haver um programa cautelar depois do Programa de Assistência Económica e Financeira, a participação do PS no processo negocial é dispensável.

Passos Coelho entende que “seria natural” uma coligação entre PSD e CDS-PP nas próximas legislativas. Uma solução, afiançou o primeiro-ministro, que ainda não foi abordada junto do número dois do Executivo.

“Eu não vejo nenhuma necessidade de estar a criar problemas ao doutor Paulo Portas, como ele seguramente não vê nenhuma necessidade de estar a criar problemas ao líder do PSD. Ora, nós não conversámos sobre isto e, portanto, não tomámos nenhuma decisão relativamente a esta matéria que fôssemos propor aos nossos partidos”, adiantou.

“Um programa cautelar, se vier a ser adotado, tem a duração de um ano, o que cabe perfeitamente naquilo que é o mandato deste Governo e da maioria que o suporta, que vigorará até às próximas eleições legislativas, que ocorrerão, dentro das circunstâncias normais, que eu espero que se verifiquem, em setembro de 2015”, argumentou Pedro Passos Coelho, para acrescentar que “não há nenhuma razão, nessa medida, para que um programa que acabe dentro da execução do mandato do Governo tenha de ter como exigência o apoio do principal partido da oposição”.

Ainda assim, segundo o primeiro-ministro, “é importante que possa existir sobre o futuro, sobre o médio e o longo prazo, um entendimento o mais alargado possível entre as principais forças políticas da oposição que têm vocação de governo”.

À semelhança do que já dissera em entrevista ao Jornal de Negócios, publicada na terça-feira, Passos Coelho quis sustentar, uma vez mais, que o programa de ajustamento “estava bem desenhado mas mal calibrado”, ou seja, teria tomado por base défices orçamentais ditos “irrealistas”.

“As medidas tiveram de corresponder aos objetivos traçados e durante algum tempo acusou-se o Governo de querer ser mais troikista do que a troika”, justificou-se o primeiro-ministro, que recuou ao chamado PEC IV do Governo de José Sócrates, dizendo que aquele documento comportava “perspetivas de défice, quer para 2010 como para 2011, irrealistas”. Uma posição que levaria, mais tarde, o deputado bloquista Pedro Filipe Soares a recordar que, “após as eleições legislativas”, Passos Coelho referiu que o “programa da troika era o programa do PSD”.

Passos descartou ainda eventuais derrapagens do défice do próximo ano, enquanto alternativa a uma possível declaração de inconstitucionalidade do diploma da convergência das pensões, evitou comprometer-se com uma descida da carga fiscal em 2015 e insistiu na ideia de que os cortes nos salários e pensões do sector público são temporários, embora não haja qualquer calendário de vigência – durarão o que o comportamento da economia ditar.
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