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Partidos tranquilizam Marcelo antes das férias: “não há crise política à vista”

por Andreia Martins - RTP
Rafael Marchante - Reuters

O Presidente da República chamou esta segunda-feira a Belém os partidos com representação parlamentar. O objetivo: acalmar os ânimos e moderar o combate político, adensado nas últimas semanas, no contexto das possíveis sanções aplicadas e Bruxelas e quando já se planeia o Orçamento do Estado para 2017. Esquerda e direita asseguram em uníssono: pelo menos em termos políticos, o Presidente da República não tem motivos para estar inquieto. Depois dos partidos, o chefe de Estado recebe na terça-feira os parceiros sociais.

Oito horas depois, a temperatura política parece ter amenizado. Marcelo Rebelo de Sousa recebeu os representantes partidários no Palácio de Belém. Falou-se da situação política em Portugal, mas também do próximo Orçamento do Estado, que acabou por assumir uma posição central nas reuniões.

António Nabo, Sandra Machado Soares, Rui Cardoso, Luís Moreira - RTP

"Parece-me que não há à vista nenhuma questão de instabilidade política, nenhuma crise política. Os acordos estão firmes e estão para durar", garantiu Ana Catarina Mendes, que fez ainda uma análise positiva da “estabilidade governativa”, patente nos primeiros oito meses do Executivo socialista.

No final da reunião com o chefe de Estado, a secretária-geral adjunta do Partido Socialista mostrou-se confiante num entendimento entre os partidos da maioria parlamentar de esquerda, um entendimento que permita a aprovação do Orçamento do Estado no próximo outono.

Ana Catarina Mendes realçou também que o PS tem sido capaz de cumprir os compromissos assumidos com os eleitores, com os parceiros e com a Europa, e que vai continuar a trabalhar nesse sentido.
Bloco não vê motivos para “intranquilidade”
Também Catarina Martins quis desfazer dúvidas e garantir que o Bloco de Esquerda está “empenhado” em manter o acordo que sustenta o Governo

“Julgo que o Presidente não tem nenhum motivo para intranquilidade, o BE nunca lhe deu motivos para isso”, declarou.

No mesmo dia em que foram anunciados os dados da despesa pública nos primeiros seis meses do ano, Catarina Martins vê na diminuição do défice a recusa e descredibilização das eventuais sanções europeias.

Tranquilizados os ânimos, ficaram no entanto alguns avisos para o futuro. A líder bloquista lembrou que o seu partido “nunca compactuará com medidas de austeridade”, apesar de não ter recebido qualquer sinal de alarme por parte do Executivo. "Esperamos continuar o percurso que tem vindo a ser feito no próximo Orçamento do Estado”, acrescentou.
OE 2017, uma prova de fogo
O documento orçamental para o próximo ano foi tema incontornável nas reuniões desta segunda-feira, que dão por encerrada a sessão legislativa.

Já a olhar para os próximos meses, Catarina Martins garantiu que o Orçamento já está a ser preparado e as negociações concretas, nomeadamente quanto ao congelamento das carreiras na função pública, fazem-se à mesa com o PS.

Do lado dos comunistas, Jerónimo de Sousa garantiu que, se o caminho for o da “reposição de direitos e salários dos trabalhadores”, o PCP estará sempre ao lado do Governo.

No entendimento do Partido Comunista a nova situação política encontrada, com um Governo que se sustenta no apoio da esquerda parlamentar, veio permitir “avanços significativos na reposição de direitos, rendimentos, defesa dos serviços públicos que, embora insuficiente e limitada, tem um grande significado num quadro tão difícil no plano económico e social".

Após a reunião desta segunda-feira com o Presidente da República, o líder do PCP deixou a advertência ao PS: “Qualquer inversão deste caminho, como o PSD atualmente defende e propõe, naturalmente não estaremos de acordo".

Sobre o próximo Orçamento do Estado para 2017, Jerónimo de Sousa diz que se trata de “uma prova importante”. Não se pronuncia, nem “sim” nem “não”, até porque ainda não conhece o documento. Criticou a importância atribuída aos números do défice e, claro, as “chantagens e pressões da União Europeia”.
Economia preocupa PSD e CDS
À direita, novamente as críticas que se têm feito ouvir nos últimos dias, de cariz sobretudo económico. Com o reconhecimento, no entanto, que não há quaisquer sinais de crise política, em aproximação ao que foi dito pela esquerda parlamentar.

Com Pedro Passos Coelho ausente “por motivo de doença”, a vice-presidente do PSD, admitiu após reunião em Belém que o Partido não vê “nenhum cenário de crise política no horizonte” e que o Governo conta com “uma maioria estável no Parlamento”.

É aliás a eles a quem compete aprovar o Orçamento, sem que tenham de esperar pelo aval da direita. Sofia Galvão foi perentória e disse que o PSD não será parte da solução do próximo orçamento.

As críticas principais dos sociais-democratas direcionam-se sobretudo no âmbito da política económica. A ‘vice’ notou o crescimento económico “inferior” ao que foi prometido, bem como um “consumo interno que não é capaz de fazer arrancar a economia”. Nota também para o estado do sistema financeiro e especificamente da banca portuguesa.

Também o CDS mostrou preocupação com a desconfiança dos investidores com o atual Governo. Assunção Cristas manifestou-se preocupada sobretudo com a economia, mas também com a situação do setor financeiro.

Segundo a líder centrista, o atual Governo tem sido "claramente incapaz de relançar a economia e o emprego".

Se em termos políticos a solução governativa parece estável, no prisma económico o mesmo não se verifica, segundo a análise da presidente do CDS-PP: "Esta solução das esquerdas unidas não nos parece que esteja a fazer nada de bem à economia, à vida dos portugueses, numa perspetiva de médio e de longo prazo".

O orçamento, diz Cristas, não é uma matéria que “preocupe” o partido. Remeteu a discussão do Orçamento de 2017 “para os seus protagonistas”.

Sem desfazer o tabu, a líder do CDS recusa pronunciar-se sobre se o partido aceitaria fazer parte de uma solução governativa em caso de crise política, num cenário de eleições antecipadas.
“Prematuro” falar sobre o Orçamento
José Luís Ferreira, deputado do Partido Ecologista Os Verdes, também passou por Belém ao início da tarde e referiu que o Presidente da República "não está preocupado" com a atual situação política, mas quer apenas saber "como as coisas estão".

Após a reunião desta segunda-feira com Marcelo Rebelo de Sousa, o deputado do PEV afirmou que o partido “está disponível” para continuar a apoiar o Governo numa caminhada de "devolução de rendimentos e recuperação de direitos dos portugueses que foram perdidos".

O deputado ecologista esclarece que ainda é muito cedo para anunciar a posição do partido relativamente ao próximo Orçamento do Estado, quando ainda nem sequer é conhecido o documento.

"Seria prematuro, naturalmente, que Os Verdes anunciassem agora a sua posição de voto sobre um Orçamento que ainda não conhecemos e que ainda não existe. Ele será analisado quando for apresentado", completou.

André Silva, do PAN, foi o primeiro a reunir com o chefe de Estado, e deixou uma mensagem aos restantes responsáveis que pisaram o chão do Palácio de Belém: todos os partidos devem votar o Orçamento do Estado com sentido de responsabilidade.

"É extremamente necessário que, neste momento de dificuldade que possa existir, haja responsabilidade por parte daqueles que são os partidos que fizeram esta solução governativa e também daqueles que são os principais partidos da oposição, que se dizem responsáveis", sublinhou André Silva.

(c/Lusa)
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