Três vezes primeiro-ministro

Durante a sua carreira política, Mário Soares foi três vezes primeiro-ministro de Portugal no I, II e IX Governo Constitucional. Governou sempre um país em crise e por duas vezes teve de pedir assistência externa ao FMI. "É preciso apertar o cinto", afirmava Mário Soares em 1984.

“Vencer a Crise. Reconstruir o País” era o lema do Partido Socialista. Durante a sua longa carreira política, Mário Soares foi três vezes primeiro-ministro de Portugal.

A primeira vez, de 23 de julho de 1976 a 30 de Janeiro de 1978, no I Governo Constitucional, quando o PS venceu as primeiras eleições livres em Portugal, a 25 de abril de 1976, com 34,87 por cento dos votos, seguido do PPD, com 24,38 por cento, e do PCP, com 14,35 por cento.

Em outubro de 1976 é reeleito secretário-geral do PS no II Congresso do partido. Em finais de novembro é eleito vice-presidente da Internacional Socialista no congresso realizado em Genebra.


Em inícios de 1977 percorre as capitais dos países da CEE, no sentido de angariar apoios para a adesão portuguesa, uma das prioridades do Programa de Governo.

Num momento em que é notória a deterioração da conjuntura económico-financeira do país, Mário Soares apresenta na Assembleia da República um memorando com propostas para o estabelecimento de uma plataforma de acordo com os partidos políticos e os parceiros sociais, a 17 de novembro de 1977.
Moção de confiança rejeitada
A não concretização deste acordo leva à apresentação de uma moção de confiança, cuja rejeição motiva a queda do Governo, a 7 de dezembro de 1977. Soares inicia então negociações com os principais partidos representados no Parlamento, na tentativa de chegar a um acordo governamental, que vem a estabelecer com o CDS.

No II Governo Constitucional, Mário Soares também foi indigitado primeiro-ministro, tendo cumprido o mandato de 30 de janeiro de 1978 a 29 de agosto de 1978.

O II Governo não conseguirá, porém, resistir às críticas, quer do Presidente da República, quer do PSD e do PCP. Mário Soares é exonerado por Ramalho Eanes, remetendo-se então à vida partidária, nas funções de secretário-geral do PS e assumindo-se como o principal líder da oposição.

Mário Soares foi nomeado a terceira vez primeiro-ministro no IX Governo Constitucional, no chamado Governo do Bloco Central, entre 9 de junho de 1983 e 6 de novembro de 1985.

Nas legislativas de 25 de abril de 1983, o PS venceu com 36,12 por cento, seguido do PPD/PSD com 27,24 por cento e da APU, com 18,07 por cento dos votos.

Foi o Governo liderado por Mário Soares que em 1977 pediu a primeira intervenção externa do FMI em Portugal. A vinda do Fundo Monetário Internacional "não teve grande impacto mediático", mas atribui-lhe a consequência política de ter forçado um acordo de incidência parlamentar entre o PS e o CDS.

Redução de salários e subida de impostos foram algumas das medidas aplicadas na primeira intervenção.

Em 1983, durante o IX Governo Constitucional, foi outra vez solicitada a intervenção do FMI em Portugal, quando Mário Soares era novamente primeiro-ministro. A chegada da delegação do Fundo Monetário Internacional, dirigida por Teresa Ter-Minassian, ocorreu no segundo semestre e esteve longe de monopolizar a atenção dos jornais e da televisão.

O FMI emprestou 750 milhões de dólares e impôs novamente cortes nos salários da Função Pública, aumento de preços, redução do investimento público, cortes no subsídio de Natal, entre outras medidas de austeridade.

O 1.º de Maio de 1984 foi marcado por palavras de ordem contra o FMI, quando os portugueses já tinham começado a sentir os efeitos das medidas de austeridade impostas desde o final do ano anterior.
"Ambiente envenenado"
“Não se nega o descontentamento difuso que existe em larga escala da população. Descontentamento que resulta de circunstâncias imutáveis de ordem nacional e internacional, de muitas promessas demagógicas não cumpridas que ficaram no ar a envenenar o ambiente, saturado de equívocos ainda não desfeitos e da própria dureza da política de austeridade que o Governo vem realizando com determinação e coragem. Haverá outro caminho para ultrapassar crise e assegurar o ressurgimento nacional? Todos sabem, no fundo das suas consciências, que não há”, sustentava à época Mário Soares.

O país estava a enfrentar grandes dificuldades financeiras, com meio milhão de desempregados e mais de 150 mil trabalhadores com salários em atraso. A taxa de inflação andava na ordem dos 30 por cento e a queda real dos salários rondava os nove por cento.

Foi em maio de 1984 que Mário Soares cunhou uma expressão que faria história. Era preciso “apertar o cinto”. Segundo o governante, não havia outro caminho.

“Não se trata de apertar somente o cinto, mas sim de assegurar dentro de três ou quatro anos a expansão da nossa economia”, concluiu Mário Soares.