GREEN WINDOWS por João Carlos Callixto

7 Mar 1974 - "No Dia em Que o Rei Fez Anos"

Para abrir o ano, comecemos com um aniversário real aqui no “Gramofone” e uma canção que esteve a um passo de ser a primeira senha do 25 de Abril. Estamos em 1974 e os Green Windows, projecto paralelo do Quarteto 1111, existia há cerca de ano e meio.

O grupo tinha sido criado na sequência do 2º Festival dos Dois Mundos, em 1972, onde José Cid e os seus colegas se apresentaram com uma formação alargada com vozes femininas para as canções “Sabor a Povo” (que alcança o 3.º lugar no evento) e “Uma Nova Maneira de Encarar o Mundo”. Percebendo logo ali potencialidades comerciais, Dick Rowe, executivo da Decca britânica presente no certame, leva-os a Londres, onde gravam a canção “Vinte Anos”, da autoria de José Cid e Tozé Brito.

Com versões editadas em inglês e espanhol, o sucesso do grupo faz-se no entanto em Portugal, com esta música a tornar-se num dos standards da pop nacional. Em 1974, ninguém estranhou portanto que os Green Windows concorressem ao Festival RTP da Canção, ainda para mais em dose dupla – ou tripla, se contarmos com a participação a solo de José Cid, com “A Rosa Que Te Dei”, que se classifica em 5º lugar.

O pódio é ocupado por “Imagens”, pelos Green Windows (3º lugar), por esta nossa canção de hoje, “No Dia em Que o Rei Fez Anos” (2º lugar), cabendo a vitória, como bem sabemos, ao elegíaco “E Depois do Adeus”, por Paulo de Carvalho. Tivesse havido uma reviravolta na votação e as portas de “par em par” da canção de José Cid teriam sido também muito provavelmente as primeiras portas a abrir Abril, como senha radiofónica da revolução.

Em palco, neste Festival, os Green Windows contaram, além de Cid, com outro membro fundador do Quarteto 1111, António Moniz Pereira, e ainda com Mike Sergeant, Vítor Mamede, Maria Armanda e Rita Ribeiro. A primeira, então mulher de José Cid, gravou apenas um disco a solo, em 1979, enquanto Rita Ribeiro integraria pouco depois as Cocktail e começa uma bem sucedida carreira de actriz.

Quanto aos Green Windows, gravam depois em 1975 já de novo com Tozé Brito o single “Quadras Populares”, após o que Cid abandona o projecto. Tozé e Mike lideram-no durante cerca de um ano, integrando Fátima Padinha, e o grupo conhece ainda uma última formação, já sem nenhum membro fundador. Os Gemini, primeiro, e as Doce, depois, seriam os descendentes mais directos do grupo. Que se abram então as portas da nossa pop, no ano da graça de 1974!