PEDRA E CAL por João Carlos Callixto

13 Jul 1975 - "Sete Dias"

No Verão Quente de 1975, a RTP transmitiu uma série que juntava humor e música e que se chamou “Bobi”. No “Gramofone” de hoje, visitamos de novo esse programa, agora para mostrar os Pedra e Cal, um grupo que apenas deixou um single mas que tinha na sua formação músicos da Filarmónica Fraude e dos Kama-Sutra. Luís Linhares (teclas, e que nestas imagens surge no acordeão) tinha sido o compositor de todo o material original da primeira dessas bandas, com destaque para o histórico álbum “Epopeia”, de 1969, o primeiro de originais do pop rock nacional. Neste mesmo ano de 1975, Linhares integrava também a formação que gravou o álbum de estreia da Banda do Casaco, “Dos Benefícios dum Vendido no Reino dos Bonifácios”, editado pela mesma editora Philips que publica então o single dos Pedra e Cal. Da Filarmónica Fraude, vinha também o vocalista e guitarrista António Antunes da Silva (conhecido como Toneca), falecido em 2014. Aqui também na voz e na guitarra, Carlos Barata tinha feito coros para o referido álbum da Filarmónica Fraude, mas seria com os hard rockers Kama-Sutra que se destaca no início dos anos 70. Infelizmente, o grupo não deixou nenhum legado em disco, subsistindo umas gravações caseiras feitas então para a rádio. Barata passa depois por grupos como os Cantaril e integra há muito a Ronda dos Quatro Caminhos, uma das “instituições nacionais” no campo das recriações da música tradicional portuguesa.

À época da transmissão destas imagens, em pleno Verão Quente, os Pedra e Cal tinham já publicado o seu único disco. “Vira Virou” e “Cavaremos Nossa Terra com a Nossa Própria Enxada” eram os dois lados do single e traziam a assinatura de Fernando Graça (nas letras) e de Luís Linhares (nas músicas). Entre as melodias de inspiração tradicional e os textos de crítica social, o grupo projectava então a edição de um álbum, sendo que na emissão do programa “Bobi” apresentou a nossa música de hoje e ainda outras duas inéditas que deveriam ter feito parte desse trabalho. Carlos Barata recorda que se trataria de um disco conceptual: era “a história de um sujeito, o Arménio, e abordava diferentes fases da vida dele desde o nascimento na aldeia, passando pela guerra e os problemas de trabalho”. O retrato, portanto, do Portugal contemporâneo mas que infelizmente não chegou à fase final – a ter-se concretizado, e julgando pelo material então apresentado na RTP, seria hoje decerto um dos trabalhos históricos daqueles tempos “quentes”. O grupo, do qual faziam ainda parte José Ricardo (guitarra baixo, e que já no séc. XXI integraria a Filarmónica Fraude num concerto de reunião na vila de Tomar natal tanto destes como dos Pedra e Cal) e o baterista Vítor, viria a terminar pouco depois, com Luís Linhares a notabilizar-se como director coral e um dos especialistas da obra do também tomarense Fernando Lopes-Graça, sobre a qual tem publicado e de cuja Casa-Museu em Tomar chegou a ser coordenador científico.