TRIO ODEMIRA por João Carlos Callixto

1 Set 1964 - "Cucurrucucú Paloma"

Com um percurso iniciado ainda nos anos 50, o Trio Odemira é responsável pela divulgação entre nós de reportórios latino-americanos de várias épocas e as suas mais de seis décadas de carreira transformaram-nos no mais longevo e popular dos grupos vocais portugueses. Sempre com as vozes dos irmãos Carlos e Júlio Costa, a paragem hoje aqui no “Gramofone” é em 1964, em que ao lado dos irmãos surge José Ribeiro na interpretação de “Cucurrucucú Paloma”. Este último estava no grupo desde os primeiros registos fonográficos, editado em 1957 pela Valentim de Carvalho e onde encontramos canções como a rapsódia alentejana “Rio Mira”, o original “Não É Tarde Nem É Cedo” ou “Malagueña”, outro standard da canção latina.

Logo nesta fase inicial ficaram bem claros os traços fortes do percurso do Trio Odemira, com o português e o castelhano como línguas francas e a canção de cariz romântico como grande preferência. O Alentejo e as suas vivências foram também desde sempre incluídos no universo do grupo, que passou por diversas editoras discográficas. Depois da Valentim de Carvalho, para onde gravam uma versão de “Nasci contra o Vento” (canção com que Simone de Oliveira participara no 2.º Festival da Canção Portuguesa, no Porto, em 1960), a fase seguinte do grupo passa pelo selo Alvorada, da firma portuense Rádio Triunfo, onde gravam vários EPs. Na Telectra, já em meados de 60s, gravam um álbum onde incluem a sua interpretação de “Menino de Oiro”, de José Afonso, naquela que se torna numa das primeiras versões do reportório do cantautor que viria a transformar a Música Portuguesa.

Uma breve passagem novamente pela Valentim de Carvalho, para onde gravam versões de sucessos de diversas proveniências – como “Something Stupid”, que Frank e Nancy Sinatra popularizaram em 1967, e que o grupo rebaptiza de “Nunca Esquecerei”, é sucedida por um período de alguma indefinição. No selo Polydor, distribuído pela Philips (então a única multinacional instalada entre nós), gravam discos com o nome Os Odemiras, em que tentam arranjos mais próximos da pop da época. Na década de 70, com a gestão de espaços comerciais na área da restauração, em Lisboa, abrandam o ritmo de gravações e seria pela Orfeu, de Arnaldo Trindade, que voltam aos discos, já depois de 1974.

Com mais de duas décadas de percurso, a explosão comercial em termos de vendas viria nos anos 80, onde a então PolyGram (sucessora da Philips) lhes edita êxitos como “Ana Maria” ou “Anel de Noivado”, que persistem até hoje em dia como standards do grupo e da canção romântica em Portugal. Esta de hoje, “Cucurrucucú Paloma”, é uma canção mexicana, da autoria de Tomás Méndez, e tinha sido popularizada pelo ídolo romântico Pedro Infante. No filme "Habla con Ella" (2002), de Pedro Almodóvar, Caetano Veloso interpretou uma versão da canção, trazendo-a assim a novos públicos.