O N.º 1 DA PENÍNSULA IBÉRICA por Rui Alves

Nasce para a baliza em 1932, o forte apelo tinha tudo para ser bem-sucedido, não lhe faltava agilidade e tinha aquilo que um bom guardião deve ter: o toque de loucura que o distingue de todos os outros.

Com 17 anos entra para o clube da terra natal, o Barreirense e poucos meses depois já os dois clubes da segunda circular de Lisboa o disputavam. Por 45 mil escudos, o clube da margem sul vende o jovem guarda-redes ao Sporting, ocasião propícia para surgir o seu espírito reivindicativo vir ao de cimo, recusa-se a ser tratado como uma simples mercadoria.

Convencido com 10 contos, inicia então em 1950, um reinado de oito anos na baliza do ‘leão’. Totalista nos títulos nacionais de 1952/53 e 1953/54, marca presença na final da Taça de Portugal desta última época, ganha por 3 a 2 ao Vitória de Setúbal, depois de ter eliminado o Benfica, FC Porto e Belenenses durante a caminhada que culminou na conquista do troféu no Estádio de Alvalade.

O número 1 da Península Ibérica ganha de novo protagonismo no Nacional de 1954/55, quando nas Salésias e na última jornada, tira a bola de dentro da baliza, depois de um remate de Matateu, evitando a derrota frente ao Belenenses e oferecendo o campeonato em bandeja de prata ao grande rival… Benfica. O clube da Luz termina empatado em pontos com o Belém.

Campeão pela última vez em 1958, segue para Espanha para representar o modesto Granada, de regresso a Portugal, com um convite do Salgueiros, mas o Sporting temendo que fosse uma artimanha que o levaria ao Benfica, exerce o direito de opção, mas nem assim ele regressa à baliza leonina porque não paga o que ele entendia ser justo.

Suspenso de toda a actividade, até o Sporting em 1961 consentir deixá-lo jogar pelo Atlético. Acusado de violação de uma mulher, defende-se que está a ser vítima de um embuste montado pelo clube de Alvalade e pela Policia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE).

Há quem tenha dito que Carlos Gomes foi o melhor guarda-redes português de todos os tempos, campeão por cinco vezes pelo Sporting, foge do país ao intervalo de um jogo para escapar à PIDE. Julgado à revelia, é condenado a onze anos de prisão.

Com passagem por Espanha, só se sentiria seguro no Norte de África (Marrocos, Argélia, e Tunísia) onde obteve o estatuto de refugiado politico. Voltaria a Portugal em 1983, optando por viver em Viena quase até aos últimos dias.