Luiz Fagundes Duarte
De vez em quando há alguém que ressuscita a velha ideia da divisão da Diocese dos Açores – ou melhor, de Angra, já que as dioceses, como os distritos da administração política do território, dão pelo nome da cidade em que têm a sua sede –, com a criação de uma nova em Ponta Delgada.
Este é peditório para que eu não tenciono contribuir: até porque, se já são comuns os peditórios e outras formas de colecta junto dos fiéis para a manutenção da actual diocese, que é só uma, tudo leva a crer que eles hão-de aumentar para que se possa manter já não uma, mas duas. Porém, esse será um problema dos fiéis contribuintes, que não meu.
Quer-me parecer, no entanto, que a Igreja açoriana, ao alimentar esta ideia peregrina, está a remar contra a História – na qual, aqui nos Açores, desempenhou um papel fundamental: desde a criação da Diocese, em 1534, até à instauração da Autonomia Regional, em 1976, e esquecendo o breve período da Capitania-Geral (1766-1831), a Diocese foi, de facto, a única instituição organizada e com verdadeiro poder que olhou para os Açores como um todo e não como um grupo de ilhas, umas maiores e outras mais pequenas, em que cada uma labutava por si – eventualmente até em oposição às outras. Ou seja, sempre pensei que a Igreja Católica, através da Diocese de Angra, percebera aquilo que o poder político e o poder económico nunca tinham percebido: que à natural divisão, imposta pela geografia, deveria contrapor-se a união, gerida pela vontade humana. Mesmo nos tempos em que viajar entre as ilhas era muito difícil.
A isso eu sempre chamei, com enorme respeito, um acto de inteligência.
Agora, perante esta ressuscitada tendência da mesma Igreja para dividir o que ela própria unira – para mais na época da globalização e da sociedade da informação e da comunicação –, já estou em crer que a inteligência pode não ser um dado adquirido.