A falta que faz…
Numa altura em que tanto escasseia o pensamento com conteúdo, sentimos saudades daqueles que o tiveram em abundância.
Na próxima segunda feira assinala-se o aniversário do nascimento de Daniel de Sá, um destes poucos homens de larga sabedoria e cultura nunca alardeadas, sentido de humor, sensatez e profundo conhecimento do comportamento humano.
Para além da magnífica obra literária, o seu precioso contributo para os Açores alargou-se na participação cívica e política, na intervenção social, na disseminação catequética da cultura, no aconselhamento aos dirigentes religiosos e governamentais, no relacionamento com o seu semelhante.
É dele a visão vanguardista de muitas das urgências arquipelágicas, como quando afirmava que cada ilhéu devia poder nascer em terra dos seus, que cada um de nós se devia entender como uma peça do mundo, já que de cada rua se consegue ver o mesmo universo; foi dele, há muitos anos, a afirmação de que nos Açores o mar seria a lavoura do futuro…
Profundamente crente num catolicismo humanista e num Estado social e solidário, sempre lhe repugnou a existência de influências ou pressões entre estes dois mundos, e entre a área da justiça, ou algo que não se resumisse à partilha do ser humano como algo que todo o respeito merece e todo o esforço justifica.
Daniel de Sá era um recorrente defensor da verdade – aquela de que estivesse convicto, mesmo se implicasse prejuízo da sua própria pessoa. Muitas vezes me pergunto quão ferozmente não se levantaria a sua voz contra muitas das coisas a que atualmente assistimos e quanto não pugnaria ele pela união deste arquipélago em torno do seu próprio valor e sobrevivência.
E se não há gente insubstituível, há quem faça toda a falta para aconchegar e confrontar a humanidade.”
Madalena San-Bento,
In: “Açoriano Oriental”, 29/02/2020
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