Sérgio Moura Afonso, encenador escolhido por Eunice Muñoz para o espectáculo de
encerramento dos seus 80 anos de carreira, traz agora a cena Anton Tchekov na Quinta da
Ribafria, no fabuloso cenário natural de Sintra, entre julho e agosto.
"O que parece ser um relato do muito recente conflito entre duas nações vizinhas, é na
verdade parte do prólogo com que se dá início ao texto de Anton Tchekov, escrito em
1895, alguns anos antes da Revolução Bolchevique.
Três atores, três personagens, três narradores presentes que nos transportam para
dentro de uma realidade moscovita do final do século XIX, mas que na verdade está
ainda bem presente, infelizmente, nos nossos dias. A fome, a miséria, a misoginia, o
controlo psicológico, a sedução das palavras, o populismo e apatia generalizada que nos
remete para uma ideia de conforto que não só é enganadora como reconfortante para
que não haja qualquer possibilidade de um confronto com o nosso espelho.
Foi com estes pontos essenciais da obra, que se cruzam à nossa frente praticamente
todos os dias, que surge a vontade de contemporizar e dar novas leituras à obra. Ainda
assim, quando esta mesma vontade surgiu, longe estávamos de poder imaginar o que
no panorama internacional estaríamos todos a assistir. Falamos das convulsões
políticas na guerra que se avizinha cada vez mais próxima. O abandono, as atrocidades,
a pobreza e miséria gerada, tudo isto é abordado neste espetáculo que nos transporta
por referências originais para um São Petersburgo abastado e para uma Odessa
empobrecida.
Tchekov teve como propósito escrever tragicomédias que de certa forma expusessem e
ridicularizassem os costumes, a política e a sociedade da época. No entanto com o
crescimento do teatro moderno começou a sobressair o psicologismo das personagens
que nos remete nos dias de hoje para uma tragédia sem deixar perceber a ironia da
vida.
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