No início de Janeiro, estreia um novo programa da escritora Lídia Jorge, com transmissão na Antena 2 às 3ªs feiras. São crónicas sobre um mundo que continuará redondo.
Em Todos os Sentidos
por Lídia Jorge
3ª feira | 12h30 | 18h30
"Vai para treze anos que Thomas Friedman publicou um livro com o título de O Mundo é plano, considerado por muitos uma obra popular irrelevante, e no entanto o equívoco de que parte deveria merecer o melhor da nossa atenção. Nessas páginas, o desenho que o colunista do New Yook Times faz do mundo contemporâneo, em função da actual redução das distâncias, da simultaneidade dos actos em sequência, e da homogeneização das culturas, tomando por base a revolução tecnológica em curso, corresponde a uma fantasia vivida como utopia mobilizadora um pouco por toda a parte. Mesmo quando não nos apercebemos, ela caminha a nosso lado e conduz-nos para um lugar que, de tanta abrangência e simplificação, é incapaz de desenhar um horizonte que se compagine com o humano.
Felizmente que para combater semelhante utopia e torná-la insignificante, milhares de vozes, dia após dia, se encarregam de falar do outro mundo, o paralelo, aquele que permanece fiel ao reconhecimento de que a Natureza é coisa extensa, que o tempo do espírito não tem cronómetro, que a realidade sempre será múltipla e sempre será relatada com o pressuposto de que é inapreensível e inenarrável, e por isso devemos tentar descrevê-la a partir de infinitos pontos de vista. Na altura, eu imaginei juntar-me aos demais, escrevendo crónicas que tivessem por base a metáfora dos planetas esféricos, para dizer que a realidade é infinitamente complexa em todos os sentidos. Fui alimentando essa ideia, mas só agora quis o acaso que tivesse encontrado forma de passar da intenção à prática. Por isso mesmo este programa acabará por ter um sub-título escondido – E no entanto o Mundo continuará redondo."
Lídia Jorge
(escrito segundo o anterior AO)
Felizmente que para combater semelhante utopia e torná-la insignificante, milhares de vozes, dia após dia, se encarregam de falar do outro mundo, o paralelo, aquele que permanece fiel ao reconhecimento de que a Natureza é coisa extensa, que o tempo do espírito não tem cronómetro, que a realidade sempre será múltipla e sempre será relatada com o pressuposto de que é inapreensível e inenarrável, e por isso devemos tentar descrevê-la a partir de infinitos pontos de vista. Na altura, eu imaginei juntar-me aos demais, escrevendo crónicas que tivessem por base a metáfora dos planetas esféricos, para dizer que a realidade é infinitamente complexa em todos os sentidos. Fui alimentando essa ideia, mas só agora quis o acaso que tivesse encontrado forma de passar da intenção à prática. Por isso mesmo este programa acabará por ter um sub-título escondido – E no entanto o Mundo continuará redondo."
Lídia Jorge
(escrito segundo o anterior AO)
Programas (/Crónicas)
1º | 1 Janeiro
O Bosque
1º | 1 Janeiro
O Bosque
Diálogo com as árvores de um bosque
Para ouvir, clicar aqui.
Para ouvir, clicar aqui.
@ Luís da Cruz
2º | 8 Janeiro
O Tubarão
Discussão sobre cinema em Guadalajara
Para ouvir, clicar aqui.
Para ouvir, clicar aqui.
@ Luís da Cruz
3º | 15 Janeiro
Os teus aparelhos
Autoria não identificada
Prisioneiros de guerra portugueses em 1918 (Deutsches Bundesarchiv)
8º | 19 Fevereiro
A Europa e o Lobo de Tróia
A Europa e o Lobo de Tróia
Para ouvir, clicar aqui.
O rapto da Europa, Asteas, c. 340 AC, Paestum
@ Museu Nacional de Arqueologia, Pesto, Itália (Antiga Grécia)
16º | 16 Abril
Emily e o Cérebro
Para ouvir, clicar aqui.
Self Reflected @ Greg Dunn, Brian Edwards
Brundibár @ Yad Vashem
18º | 30 Abril
Montaigne e o Amigo
Montaigne e o Amigo
Para ouvir, clicar aqui.
19º | 7 Maio
Teoria e Prática das Mulheres
Para ouvir, clicar aqui.
20º |14 Maio
21º | 21 Maio
22º | 28 Maio
23º | 4 Junho
Agustina como Ninguém
Agustina como Ninguém
24º | 11 Junho
Mar Vermelho
Para ouvir, clicar aqui.
25º | 18 Junho
Para ouvir, clicar aqui.
26º | 25 Junho
Diante do Mar
Para ouvir, clicar aqui.
Início do século XX; foto não identificada; col. Arquivo Municipal de Lisboa
Ilustração de Júlio Pomar para As mil e uma noites; pref. Aquilino Ribeiro.
Lisboa: Estúdios Cor, 1958-1962
29º | 17 Setembro
O memorial de Cervantes
O memorial de Cervantes
Para ouvir, clicar aqui.
Miguel Cervantes - Novelas Exemplares. Lisboa: Civilização, 1965.
30º | 24 Setembro
31º | 1 Outubro
Guilherme e o mito
Para ouvir, clicar aqui.
Fotógrafo Bernard Hoffman, Portugal, 1940.
Publicada na revista Life, Julho 1940.
Capa da revista TIME, de 22 julho 1946. Ilustr. de Boris Chaliapin
37º | 12 Novembro
As sementes de Adriana
As sementes de Adriana
Para ouvir, clicar aqui.
38º | 19 Novembro
O Dilema de Alma Mahler
O Dilema de Alma Mahler
Para ouvir, clicar aqui.
Escravos a bordo de um navio negreiro, provavelmente em meados do século XIX.
Fotografia de autoria não identificada.
Josefa de Obidos - Adoração dos Pastores (fragmento), 1669
@ Alfredo Cunha
Lídia Jorge nasceu no Algarve, região onde localizou a ação do seu primeiro livro, O Dia dos Prodígios, publicado em 1980. Desde então tem publicado romances, contos, cónicas, ensaios, textos para teatro e livros para a infância. Os seus livros estão publicados em mais de vinte línguas.
Tem recebido os mais importantes prémios para fição do seu país, e vários de âmbito internacional, como seja o Prémio Jean Monet, escritor europeu do ano 2000, o Prémio Albatros da Fundação Günter Grass, na Alemanha, ou o Prémio Luso-Espanhol de Cultura, promovido pelos Governos de Portugal e Espanha.
Os seus últimos romances são Os Memoráveis e Estuário, um livro sobre a vulnerabilidade do mundo contemporâneo, publicado no passado mês de Maio de 2018.