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Dias da Música´16 - Um programa por André Cunha Leal

A Música como uma verdadeira viagem

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Dias da Música´16 - Um programa por André Cunha Leal Dias da Música´16 - Um programa por André Cunha Leal

Carta de viagem de Phileas Fogg. Ilustração original de Alphonse de Neuville e de Léon Benett.


André Cunhal Leal, da Antena 2, foi o programador da edição de 2016 de Dias da Música. É pelas próprias palavras, aqui apresentadas em exclusivo, que nos revela a ideia subjacente à concepção de uma programação musical e nos faz embarcar numa viagem à volta do mundo em 80 concertos.



Dias 22, 23 e 24 de Abril cumpre-se mais uma vez a tradição no CCB com a realização mais uma edição do Festival Dias da Música em Belém, este ano com o título de Volta ao Mundo em 80 Concertos e, como sempre a Antena 2 estará presente para uma emissão que começará na Sexta e só acaba no Domingo, acompanhando os principais momentos do Festival.

Em 1873 Júlio Verne descreve a tentativa do inglês Phileas Fogg em dar a volta ao mundo em apenas 80 dias - uma verdadeira proeza para a época, só possível graças à determinação do protagonista e do seu fiel ajudante Passepartout. Com este livro, não foi apenas Phileas Fogg a viajar, mas todos os que se deixaram levar pela imaginação indo com ele até paragens nunca antes pensadas pela maioria dos leitores. É com base nesta aventura que vão ser apresentados os concertos B11, com compositores do tempo de Phileas Fog, como Gounod e Dvorak, interpretados pelo Melleo Harmonia e com a direcção de Joaquim Ribeiro, e o concerto B2, com as Variações Enigma de Edward Elgar interpretadas pela Jovem Orquestra Portuguesa dirigida pelo maestro Pedro Carneiro, que nos leva diretamente para o espirito da Inglaterra victoriana de Phileas Fogg. Já os concertos C10, com a pianista Luísa Tender, e C5, com o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa, propõe-nos fazer embarcar através da música nessa viagem retratada no livro.   
  
Essa é também a época das Grandes Exposições Universais, uma maneira de dar a conhecer o mundo a quem não podia aventurar-se como fez Phileas Fogg. Julio Verne terá certamente assistido a três das maiores, todas elas realizadas em Paris - 1867, 1889 e 1900. Eram sem dúvida grandes acontecimentos que moviam milhares de pessoas, ponto de encontro de culturas e de gentes numa época em que o Mundo ainda parecia tão distante para a maioria. Também a música, pela sua universalidade, teve um papel fundamental nestes acontecimentos. Em 1862 Giuseppe Verdi já tinha composto um "Hino das Nações" para a Exposição Universal de Londres; em 1889, as sonoridades do Gamelão de Java influenciariam toda uma geração de compositores a começar por Claude Debussy; em 1900, Paris era inundada de músicos da ilha de Madagáscar com os seus ritmos tribais. É neste sentido que vai a proposta do Ensemble Darcos que se junta ao agrupamento Yogistragong para nos trazer as sonoridades do gamelão e de compositores por ele inspirados como Claude Debussy (B6), numa verdadeira fusão de culturas que nos permite de certa forma pormo-nos na pele de todos aqueles que estiveram na exposição de Paris de 1889.   

A verdade é que a música é para muitos a mais universal das linguagens, aquela que mais une e, simultaneamente, uma das melhores formas de caracterização identitária de um povo e de uma cultura. São exemplo disso os vários compositores que buscaram inspiração nas raízes dos seus países: Dvorak (B11), Smetana (C24), Nielsen, Grieg e Sibelius (C2), Jon Leifs (B2), Lyadov, Glazunov e Borodin (C3) e Tchaikovsky, Rachmaninov e Shostakovich (B25), Mikis Theodorakis (B13), Gershwin, Barber e Bernstein (C13) e Copland (C1), Radamés Gnatalli, Ronaldo Miranda, Heitor Villa-Lobos, César Guerra-Peixe e Astor Piazolla (C11), Bartók e Kodály (C23), Manuel de Falla (A1 e B5) ou Luís de Freitas Branco (B1), são apenas alguns exemplos dos muitos compositores que através da música definiram toda uma cultura. 
   
Mas esta linguagem universal permitiu também a muito compositores viajarem (alguns literalmente, outros sem sequer terem que sair de sua casa), utilizando para isso os clichês musicais que definem culturas e paragens que lhes são estranhas: Rimsky-Korsakov e o Médio Oriente e Debussy e a Ibéria (A1), Gershwin e Cuba (B1), Mendelssohn e a Escócia (B3), Dvorak e a América (B4), o Barroco Francês e a Turquia (B12), a Grécia para Shostakovich e Ravel (B13), Boccherini e a Espanha (B28), Mozart e novamente a Turquia (C9), Verdi e o Egipto, Delibes e a Índia, ou Puccini e o Extremo Oriente (C5), ou Franz Liszt e a sua Peregrinação (B20, C14 e C17).   

Por esse motivo, propõe-se para estes Dias da Música um desafio parecido com o de Júlio Verne - que se parta numa viagem à volta do mundo, não em 80 dias, mas em 80 concertos. Tal como aconteceu nas grandes exposições universais, pretende-se trazer o mundo até nós através da música: seja aquela que procura as raízes - José Galissá e Guiné (B23), Desbundixie (B8), Carlos Silva e a Camerata Atlântica com Tangos e Boleros (B9), Marco Beasley e a sua amada Itália (B7), Aida Sigharia Asl e o Irão (B22), Pedro Jóia (B28), João Alvarez e Tiago Inuit (B24), Gileno Santana e Tuniko Goulart (B29), James Blood Ulmer e os Blues (B30 e C25), Paulo Sousa e Francisco Cabral com os Sons da Índia (B26), o alaudista Eduardo Ramos e as influências Moçarabes (C20) ou Nuno Côrte-Real e o seu Novíssimo Cancioneiro (C8); seja através de todos aqueles compositores cuja obra reflete todo um povo, toda uma região, toda uma maneira de ser. Um tema tão natural num país como Portugal que ao longo dos séculos, através da sua diáspora, influenciou e deixou-se influenciar por tantas culturas, do Brasil a Macau, passando por África e pela Índia, como nos revelam o concerto dos Sete Lágrimas (B15), o Quarteto Vintage (B27), as Portugoesas (C18).   

A Música como uma verdadeira viagem e com um encontro de Culturas, como nos prova Rabih Abou-Khalil (B10 e C21) ou os Orlando Consort (B14), encontros como o de Japão com Portugal com os pianistas Tomohiro Hatta e Ricardo Vieira (B16) ou encontros tão desejados como o da Palestina com Israel, graças aos pianistas Bishara Haroni e Yaron Kohlberg (B18 e C19).  

Trata-se do reconhecimento da música, como a mais globalizada das profissões, um mundo de digressões que se fazem pelo mundo inteiro, dos muitos músicos que saltam de palco em palco, de cidade em cidade, para irem ao encontro do seu público, também este global, e também todos aqueles que sendo de um país, fazem carreira noutro, sendo talvez o maior exemplo disto os elementos da Orquestra XXI (B3). Tudo isto faz deste mundo da música, um dos meios mais globais de partilha de experiências.   

São 80 concertos que representam países, povos, culturas e músicos que há muito já deixaram de ser daqui ou dali, e passaram a pertencer a todos e cada um de nós.   

Bem vindos aos Dias da Música e Boa Viagem.  
André Cunha Leal 


Concertos por Regiões

Américas
América do Norte: B1; B4; B8; B27; B30; C1; C5; C10; C13; C22; C25; V3; V9   

América Latina e América do Sul: B1; B9; B15; B27; B29; C11; C13; C22; V1; V5; V8; V9

Europa 
Península Ibérica (Portugal e Espanha): A1; B1; B5; B14; B15; B16; B17; B24; B27; B28; C8; C9; C18; C20; C22; V7; V9   

Europa Ocidental (França; Alemanha; Inglaterra; Áustria): B2; B3; B6; B11; B12; B16; B19; B20; B27; C1; C4; C5; C6; C9; C10; C12; C14; C15; C16; C17; C22; C24; V9   

Países Nórdicos (Escandinávia e Islândia): B2; B27; C2; C22; V9   

Europa do Sul (Itália e Grécia): B7; B13; B19; B27; B28; C5; C7; C10; C17 

Países Eslavos (Rep. Checa, Rep. Eslovaca; Polónia; Hungria): B4; B19; C16; C23; C24   

Ásia
Rússia: B21; B25; C1; C3   

Extremo Oriente (China e Japão): B16; C5; C6; C7; C10; B15; C22; V9  

Sudoeste Asiático e India (India e Indonésia): B6; B14; B26; C5; C18; V4  

Médio Oriente (Península Arábica; Israel; Palestina; Irão; Turquia): A1; B10; B12; B18; B22; C9; C19; C21   

África
B10; B15; B23; B27; C5; C10; C20; C21; C22; V2; V6; V7; V9