Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, Orquestra Sinfónica da RDP (1935-1989)
PEDRO FREITAS BRANCO
Fundada em 1934 pelo Ministro das Obras Públicas Eng. Duarte Pacheco, a
Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, iniciou a sua primeira
temporada oficial como orquestra da rádio, após um largo período
experimental em que realizou diversos concertos, a 26 de Novembro de
1935 no Teatro Municipal de S. Luiz, em Lisboa, sob a direcção do seu
primeiro maestro titular Pedro de Freitas Branco.
Criada com o objectivo de exercer uma larga acção cultural através da
rádio, a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, posteriormente
Orquestra Sinfónica da RDP, deu a conhecer ao público português em
primeira audição ao longo de mais de 5 décadas de existência, não só
inúmeras obras da literatura sinfónica estrangeira de todos os tempos,
como também variadíssimas composições de música portuguesa. A nossa
música foi sempre aliás, uma constante nos programas desta orquestra.
Neste capítulo, muitos foram os compositores portugueses que viram as
suas obras estreadas e posteriormente até gravadas em disco por esta
formação orquestral. Entre eles contam-se nomes como os de Luís de
Freitas Branco, Cláudio Carneyro, Frederico de Freitas, Ruy Coelho,
Fernando Lopes-Graça, Joly Braga Santos, Armando José Fernandes, Armando
Leça, Júlio Almada, Alberto Fernandes, Filipe Pires, Jorge Peixinho e
Cândido Lima, entre muitos outros.
Acresce que sendo uma Orquestra ligada à rádio, praticamente todos os
concertos por si realizados ao longo de 54 anos de existência foram
transmitidos e gravados, em especial todos os concertos efectuados a
partir dos anos 50. Desta forma o imenso arquivo sonoro da RDP possui
hoje um acervo inestimável da nossa cultura musical.
A Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, a principal orquestra da
rádio portuguesa, contava à época da sua criação 95 instrumentistas, um
Maestro Titular Pedro Freitas Branco e 3 Maestros Sub-Directores - Frederico de Freitas, Pedro Blanch e Wenceslau Pinto.
No entanto e para corresponder às diversas solicitações que se
apresentavam à Orquestra, esta desdobrava o seu efectivo instrumental em
várias formações. Surgiram assim a Orquestra Portuguesa e a Orquestra
de Câmara ambas com direcção musical de Frederico de Freitas, a
Orquestra Genérica dirigida por Pedro Blanch e a Orquestra Sinfónica
Popular, dirigida por Wenceslau Pinto.
Mais tarde formaram-se ainda a Academia de Instrumentistas de Câmara da
Emissora Nacional, uma orquestra de cordas que se manteve no activo
entre 1949 e 1975 e que tinha como concertino a violinista Leonor de
Souza Prado e a Orquestra de Concerto que sob a direcção de Frederico de
Freitas actuou entre 1956 e 1959.
Ao longo de 54 anos de existência (ou 55 se contarmos o período
experimental) a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional posteriormente
Orquestra Sinfónica da RDP, a mais antiga orquestra portuguesa,
apresentou-se em centenas e centenas de concertos, tanto em Lisboa, como
em digressões pelo país e pelo estrangeiro.
Das tournées internacionais destacam-se as efectuadas em 1944 e 1945 a Madrid e em 1966 à Bélgica.
Em Lisboa e para além das diversas séries de concertos realizadas em
salas como o Teatro D. Maria II, o Politeama, o Tivoli, o S. Luís, o
Trindade e o Coliseu dos Recreios, cabe aqui salientar, as temporadas de
ópera do S. Carlos, em que a Orquestra Sinfónica da rádio portuguesa
participou de forma continuada entre 1946 e 1975.
Destaque ainda para os concertos efectuados no Pavilhão dos Desportos
durante os meses de Julho e de Agosto e para os célebres Concertos de
Verão, que vieram substituir os anteriores, e que se realizaram nas
Ruínas do Carmo durante 11 anos, entre 1978 e 1989.
Durante a sua longa existência a Orquestra Sinfónica da rádio, colaborou
ainda com diversas outras entidades de maneira a alargar o seu campo de
acção cultural. Destas, destacam-se a Companhia de Bailado "Verde
Gaio", a Companhia Nacional de Bailado, a Fundação Gulbenkian, os
Festivais de Sintra, a Sociedade de Concertos de Lisboa, o Círculo de
Cultura Musical e a Juventude Musical Portuguesa, entre outras.
Muitos foram também os importantes compositores, maestros e solistas
estrangeiros que dirigiram e tocaram com esta orquestra. Cito apenas
alguns nomes: Bela Bartók, Igor Strawinsky, Heitor Villa-Lobos, Leopoldo
Stokowsky, Otto Klemperer, Thomas Beechamm, John Barbirolli, Pierre
Monteux, Antal Dorati, Bernard Haiting, Rafael Frubec de Burgos, Georg
Solti e Lorin Maazel.
No campo solístico destacam-se entre muitos outros, os nomes de Fritz
Kreisler, Isaac Stern, Yehudi Menuhin, David Oistrach, Maria Callas,
Artur Rubisntein, Jacques Thibaud, Aldo Ciccolini, Victoria de Los
Angeles e Vladimir Ashkenazy.
Desde 1974 a Orquestra teve como seus últimos Maestros directores Silva Pereira e Álvaro Cassuto.
O último concerto da Orquestra Sinfónica da RDP teve lugar a 2 de
Dezembro de 1989 no Teatro de S. Luiz, no âmbito dos Festivais de
Lisboa. No programa a 4ª Sinfonia de Joly Braga Santos e o Llanto por
Ignacio Sánchez Mejías de Maurice Ohana. À frente da orquestra o maestro SILVA PEREIRA. Terminava assim a mais antiga orquestra portuguesa, extinta por decreto em 1989.
Criada nos já longínquos anos 30 do século XX a Orquestra Sinfónica da
Emissora Nacional / Orquestra Sinfónica da RDP, foi um verdadeiro pilar
da cultura portuguesa. Ao longo de 54 anos de existência com ela tocaram
praticamente todos os solistas portugueses e por ela passaram também
praticamente todos os nossos maestros, tendo sido um verdadeiro pólo de
oportunidades para os nossos músicos.
António Ferreira (pianista e musicólogo)