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“4 Casas, 4 Filmes”: a união da arquitectura e do cinema
A exposição que representou Portugal na 12ª Mostra Internacional de Arquitectura da Bienal de Veneza já tem data marcada para exibição em Coimbra e no Porto.
"4 Casas, 4 Filmes" (No Place Like - 4 Houses, 4 Films) é um projecto que estabelece uma ligação entre a arquitectura e o cinema, aliando um realizador, três artistas plásticos e cinco arquitectos portugueses. João Salaviza, Filipa César, Julião Sarmento e João Onofre foram desafiados a criar curtas-metragens que ilustrassem as quatro casas desenhadas pelos arquitectos.
Tendo como base o tema da Bienal de Veneza - "People Meet in Architecture" - os filmes ficcionam a relação das casas com o contexto em que se inserem, pela sua individualidade e especificidade, e resultaram da visão de cada artista sobre o projecto do respectivo arquitecto.
João Salaviza criou "Casa na Comporta" sobre o projecto da dupla de arquitectos Francisco e Manuel Aires Mateus; a artista plástica Filipa César filmou "Porto, 1975" sobre o projecto do arquitecto Siza Vieira; Julião Sarmento debruçou-se sobre a obra de Carrilho Graça com o filme "Cromlech"; e João Onofre criou "Sem título (SUN 2500)" sobre a obra de Ricardo Bak Gordon.
Exposição vai até Coimbra e Porto"4 Casas, 4 Filmes" iniciou o seu itinerário em Janeiro no BES Arte & Finança em Lisboa e voou ainda nesse mês para Milão. Dia 1 de Março regressa a Portugal para ser exposta na Ala Norte do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, onde estará até 30 de Abril. De seguida ruma ao Porto, onde estará em exibição no Palácio das Artes de 7 de Maio a 17 de Junho.A Ordem dos Arquitectos do Norte associou-se a esta exposição através da organização de um programa complementar de conversas - "Home Talks". Este programa irá contar com a projecção dos filmes seguida de um diálogo informal entre os autores do projecto e o público.
Dia 11 de Março na Casa das Caldeiras em Coimbra pode ser vista a projecção de "Cromelech", seguida de uma conversa com o arquitecto Carrilho da Graça e o artista plástico Julião Sarmento. A dupla de arquitectos Aires Mateus e o realizador João Salaviza também irão participar na "Home Talks" na mesma cidade, mas no dia 8 de Abril.
Os 4 Filmes sobre as 4 Casas
João Salaviza é o único cineasta do grupo, e já foi premiado em Cannes pela sua curta-metragem "Arena" em 2009. "Casa na Comporta" enquadra o projecto dos arquitectos Aires Mateus numa narrativa maior, onde cruza duas gerações de habitantes da Comporta com a busca de um elemento ausente na história.
Tendo a casa como ponto de partida e de chegada, João Salaviza criou uma obra poética, vernacular e contemporânea. Foi considerada a obra mais interessante do grupo ao replicar de forma subtil a dicotomia da obra de Francisco e Manuel Aires Mateus no argumento do filme.
Filipa César é uma artista portuense que já expôs em vários locais como Serralves, Fundação Calouste Gulbenkian e Galeria Zé dos Bois. Em "Porto, 1975" a artista trabalhou a história política da Bouça baseando-se no trabalho de Siza Vieira para a Bienal de Veneza.
Num único plano sequência, Filipa César deambula pelo bairro guiando-se pelo trajecto favorito de Siza. Começa e termina no mesmo ponto - hoje o metro, em 1975 o comboio. A artista entra e sai de casas até se fixar num único interior, ao mesmo tempo que explora a polémica por detrás da interrupção da construção da Bouça nos anos setenta, através da voz off de Alexandre Alves Costa.
Começa por enquadrar a casa e as raparigas, mas vai-se fechando mais e mais nas jovens. Planos de um queixo, um joelho, uma curva do pescoço, uma jovem a nadar na piscina, outra no duche... planos voyeuristas, as figuras femininas e o desejo, as marcas de Julião Sarmento nesta obra.
João Onofre é o quarto membro do grupo, conhecido pelo seu trabalho de aproximação. Desta vez o close-up foi para a casa de Bak Gordon, situada no bairro de Santa Isabel, um desafio por ser uma casa escondida num casco da cidade e rodeada de prédios.
"Sem título (SUN 2500)" centra-se numa tarefa aparentemente impossível: enfiar um veleiro de 9 metros dentro da piscina da casa do arquitecto. Ao filmar o barco, preso por um guindaste e a descer sobre a habitação, João Onofre transforma um espaço privado num palco.