Chaplin a contas com o progresso industrial — um filme sonoro com saudades do cinema mudo


joao lopes
18 Dez 2016 20:06

Não é uma novidade — longe disso. E, no entanto, não deixa de ser um dos grandes acontecimentos deste Natal cinematográfico: a reposição de "Tempos Modernos" (1936), de Charlie Chaplin, corresponde um reecontro sempre fascinante, porventura a uma especialíssima revelação para alguns espectadores mais jovens.

A história do trabalhador de uma grande unidade industrial, progressivamente alienado pelas rotinas do seu trabalho (o seu corpo corre mesmo o risco de se transformar num autómato…), envolve uma visão crítica do progresso cuja acutilância não se desvaneceu. Em boa verdade, multiplicou-se: trata-se de saber, afinal, se as máquinas enriquecem as relações humanas ou, pelo contrário, anulam os seus valores?




Ao fazer "Tempos Modernos", cinco anos depois de "Luzes da Cidade", Chaplin trabalhava já, necessariamente, com as técnicas do cinema sonoro. O que não significa que tivesse abandonado as componentes do mudo, de tal modo que este é um filme que, em muitos aspectos, aplica matrizes de encenação (em particular na criação de ritmos de montagem) indissociáveis de um tempo em que o som fundamental era a música de acompanhamento…
Oitenta anos depois, o retorno de "Tempos Modernos" (para mais em cópia digital restaurada) significa também que o modelo clássico de reposições voltou mesmo ao mercado português. O menos que se pode desejar é que tal tendência, reforçada ao longo dos últimos anos, permaneça activa e inventiva ao longo de 2017.

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