Tedora Ana Mihai no Festival de Cannes em 2021 (AFP)

13 Jul 2022 15:54

A primeira longa-metragem de ficção de Teodora Ana Mihai é inspirado em factos reais e conta a história de uma mãe mexicana desesperada quando a filha é sequestrada por um cartel de drogas.

Filmado no final de 2020 em Durango, no México, em plena crise sanitária, "A Civil" é o resultado de sete anos de reflexão, preparação e intensa pesquisa.

Porque escolheste o tema dos sequestros e desaparecimento de pessoas para este filme?

Eu tenho uma relação com o México desde há muitos anos… Bom, essa é uma história longa… Eu comecei a investigar este tema e pesquisei durante dois anos e meio antes de filmar a película. Ouvi muitos testemunhos, falei com muita gente. A minha ideia inicial não era fazer um filme sobre o tema. Eu queira filmar um documentário sobre crianças e adolescentes que vivem no norte do México onde sabemos que há problemas de insegurança. E durante a investigação encontrei uma mãe e esse encontro teve muito impacto porque uma das primeiras coisas que me disse foi: “abro os olhos quando acordo todas as manhãs e tenho vontade de matar ou vontade de morrer…” Então foi como um golpe quando ouvi estas palavras com tamanha violência, porque se tratava de uma mãe normal, e isso despertou o meu interesse porque queria entender como é que uma pessoa com um perfil não violento chega a esta conclusão. Mudei o ponto de vista do meu filme de uma história sobre adolescentes para a história de uma mãe que procura uma filha desaparecida. Escutei o testemunho dela, dialogamos muito, inicialmente pedi para a seguir em modo observacional mas percebi logo que não era o caminho a seguir, não ia ter a liberdade necessária para falar do tema de forma segura. Nesse momento decidi que a investigação seria incluída num argumento de ficção muito enraizado naquilo que eu tinha investigado. A protagonista do filme é a Cielo e foi inspirada nesta mãe que me marcou tanto.

Teodora, és uma realizadora europeia, de origem romena… Qual é a tua relação com o México?

Pois, conheço o México desde a adolescência, amo muito o México, o país e as suas pessoas e vi a vida quotidiana dos meus amigos e conhecidos mudar muito nos últimos anos. Quando começou a guerra contra os narcotraficantes a violência entrou nas ruas e os cidadãos ficaram no meio do fogo. Foi então que eu enquanto narradora de cinema senti esse apelo para falar deste tema porque é um assunto do qual sou testemunha e que me toca muito, que me deixa triste. Senti que isto podia ser o meu pequeno contributo para abordar um tema delicado e sensível que é uma grande ferida no México.

Este é um problema que afeta os pais e as famílias, é uma questão de insegurança dos jovens.. mas também é um problema de segurança nacional. Existe um estado de guerra permanente no México?

Gosto que o filme fale por ele próprio. O filme não diz isso dessa maneira mas sim é o que podemos concluir, sim, há uma guerra nas ruas, há gente que desaparece de um dia para o outro, da manhã à noite, não regressam, é uma situação insuportável. Já atingimos há algumas semanas os 100.000 desaparecidos, é um dado oficial, infelizmente os números reais são maiores porque infelizmente há muitas pessoas que não denunciam, por medo, porque receiam o pior, temem meter-se em problemas, correndo risco de vida ou pondo em risco os familiares. Mas quero salientar que o filme é mais do que este contexto social e político, também é um retrato desta mulher de meia-idade que procura sacudir a impotência perante o machismo que a rodeia, que toma o destino nas próprias mãos, e vemos essa pessoa a mudar e a crescer. Não digo que a mudança seja positiva, mas é uma personagem muito inspiradora porque ela assume o destino nas próprias mãos e creio que isso é importante e inspirador. Então nesse sentido o filme não é tão pesado, depende do lado em que vemos (risos).

É um problema que afeta especialmente as mulheres numa sociedade patriarcal e num país com uma taxa elevada de feminicídios…

Bom, sim, sabemos que há muitos feminicídios, e esse não é um problema dos últimos anos, existe há décadas. As mulheres são muito vitimizadas, mas eu quero atenuar isso porque também há muitos rapazes, muitos varões que desaparecem e não gosto de reduzir o assunto a uma temática de género. É um tema social onde as mulheres e os homens devem unir-se para combater porque o tecido social é muito débil. As pessoas têm muito medo, ficam apáticas, não conseguem levantar-se de manhã com medo e consciência constante de que estão correndo perigo… É difícil. Cria-se uma espécie de negação… não querer ver a realidade.

Vais voltar ao México para filmar?

Há muitas histórias, mas em breve não vou porque tenho projetos na Europa neste momento. Vou regressar porque como dizia Chavela Vargas, os mexicanos nascem onde querem! E a mim calhou-me nascer em Bucareste mas levo o México no meu coração e o futuro vai levar-me ao México de novo, não sei quando ou que histórias vou filmar, mas vai ser algo mais leve!

  • cinemaxeditor
  • 13 Jul 2022 15:54

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