Crítica: POST MORTEM, de Pablo Larraín  

A autópsia de Salvador Allende

O chileno Pablo Larrain regressa com um filme realista e assombrado sobre o momento de ascenção de Pinochet e de queda de Allende.

A autópsia de Salvador Allende
A sala da morgue onde acontece a autópsia de Salvador Allende é o local da ação de "Post Mortem".
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 A autópsia de Salvador Allende
Post Mortem Santiago, 1973. Mario Cornejo trabalha na morgue, dactilografando os relatórios das autópsias efectuadas pelos médicos legistas. Durante os dias do golpe de estado militar, Mario envolve-se com uma dançarina do cabaré Bim Bam Bum. “Voltar ao passado. Reconstruir a cena. Viver outra vez aquilo que já foi vivido. Repensar aquilo que já foi pensado. Recordar. Amar. Perder.”

Quando Salvador Allende foi assassiando, em setembro de 1973, na sequência do golpe militar que conduziu Augusto Pinochet ao poder, o cineasta Pablo Larraín ainda nao tinha nascido. Hoje, ele olha para esse tempo como um período misterioso, uma época que não consta da sua memória.

O seu esforço para compreender essa época de transição entre o período democrático e a ditadura militar levou-o a assumir uma trilogia.

"Post Mortem" é o segundo tomo, na sequência do retrato de um Travolta chileno em "Tony Manero" (exibido em 2010 nas salas portuguesas e já editado em DVD).

Em "Post Mortem", Larraín observa o efeito do golpe militar através da perspectiva de Mário (Alfredo Castro que tinha interpretado Tony Manero), um funcionário do Instituto de Medicina Legal Chileno.

A existência de Mário parece indiferente às convulsões e dinâmicas sociais que marcaram a sociedade chilena durante a governação de Allende. Alheado, ele vive entre a morgue onde trabalha e a sua casa, frequentando um teatro com espectáculos de cabaret, onde conhece uma bailarina com a qual deseja casar.

O golpe militar altera drasticamente as suas rotinas, à medida que os corredores e salas do Instituto de Medicina Legal ficam atafulhados de cadáveres. Em plena convulsão, ele é escalado para acompanhar a autópsia de Salvador Allende e redigir a certidão de óbito.

"Post Mortem" é o primeiro filme a encenar essa autópsia, mas Larraín não pretende vincar uma perspectiva ideológica, nem pretende gerar controvérsia. O dispositivo surge como uma abstração que permite transitar entre realidades históricas, estabelecendo um compromisso subconsciente com a ditadura que se instalou.

"Post Mortem" é um filme onde Larraín prossegue o seu trabalho de composição realista, mas desta vez ele alcança um realismo algo absurdo e assombrado por fantasmas e pelo local - a morgue - onde tudo acontece.

É um filme-autópsia, rigoroso, que nos mostra como pode ser desconfortável encarar o que um cadáver tem para dizer.

Crítica de Tiago Alves
publicado 18:26 - 22 setembro '11

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