joao lopes
24 Abr 2016 14:07

Julián (Ricardo Darín) sabe que tem uma doença terminal. Ao receber a visita do seu amigo Tomás (Javier Cámara), revela-lhe a situação, porventura com alguma surpresa deste. De facto, para Julián, a prioridade não está tanto na sua pessoa, mas sim no destino de outro ser vivo. A saber: depois do seu desaparecimento, quem vai cuidador de Truman, o seu cão?…

Eis uma sinopse que (como qualquer sinopse) nada nos diz sobre o essencial: como é que o filme "Truman" conta a história que conta?  Digamos que poderíamos ser "empurrados" para dois registos muito fáceis, ambos desgraçadamente telenovelescos: uma visão redundante e grosseira, apelando a um sentimento primário de piedade; ou um retrato pitoresco, transformando todos os comportamentos em matéria fútil e pitoresca. Em boa verdade, o filme de Cesc Gay escapa, inteligentemente, a qualquer uma dessas facilidades.


Assistimos, assim, a uma delicada e paciente revalorização do retrato psicológico. Nenhuma personagem  — nem mesmo o paciente e pachorrento Truman (que, de facto, se chama Troilo) — surge reduzida a mero instrumento descritivo. A singularidade do ser humano constitui, aqui, um primordial valor narrativo e cinematográfico. Não por acaso, o trabalho dos actores, com natural destaque para Darín e Cámara, é um trunfo decisivo.

Vale a pena recordar que "Truman" foi o grande vencedor dos Goya do cinema espanhol, arrebatando cinco dos principais prémios: melhor filme de 2015, melhor realização, melhor actor (Darín), melhor actor secundário (Cámara) e melhor argumento (Gay + Tomás Aragay). Digamos que esta é a prova muito real de que a produção espanhola não esquece que, por vezes, as grandes aventuras dispensam os super-heróis e os famigerados efeitos especiais…

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