A comédia revolucionária de Ozon

"Potiche" entusiasma com as suas cenas da vida doméstica e da luta de classes. Questões da década de 70 que continuam actuais

A comédia revolucionária de Ozon
Gerard Dépardieu e Catherine Deneuve, as duas maiores estrelas do cinema francês.
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 A comédia revolucionária de Ozon
Potiche - Minha Querida Mulherzinha 1977, Suzanne é a mulher submissa de um rico industrial, Robert Pujol, que dirige a sua fábrica com mão de ferro. Robert é um tirano para os seus trabalhadores, mas também para os filhos e para a mulher. Quando, por causa de um problema, Robert é obrigado a descansar e passar algum tempo fora, Suzanne assume a liderança da fábrica. Para surpresa de todos, Suzanne prova ser uma óptima líder, que ...
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Lara Marques Pereira antevê "Potiche" com declarações de François Ozon e Catherine Deneuve

A revolução passa pelo novo filme de François Ozon. Em 1977, quase anos 80, um empresário atormentado por uma greve que paralisa a produção da fábrica de guarda chuvas, é forçado a retirar-se de cena. A crise da empresa é subitamente gerida em família e a sua esposa, uma mulher dedicada aos afazeres domésticos e que se entretém a compor poemas, avança para o olho do furacão ao assumir a gestão da fábrica.

Catherine Deneuve é Potiche (a expressão francesa aplica-se a um vaso decorativo sem valor, no caso trata-se de uma mulher convertida em troféu doméstico que o marido exibe), a esposa dedicada que se revela uma gestora moderna - resolvendo de forma criativa os problemas da fábrica ela muda uma série de paradigmas e provoca um ampla revolução.

Ozon adaptou uma peça teatral de Pierre Barillet e Jean-Pierre Gredy com agenda feminista e social. "Potiche" aborda a emancipação das mulheres, a relação económica entre poderes públicos e privados, o confronto entre patronato e sindicatos, o papel social das empresas e a deslocalização das companhias.

O filme está carregado de estereótipos - o patrão explorador, a secretária que é amante, a mulher que fecha os olhos ao comportamento do marido, o autarca comunista, os operários obcecados com as regalias - e sabemos como Ozon adora acentuar essas figuras através das interpretações exuberantes, do guarda-roupa irrepreensível e dos adereços certos.

É a sua primeira comédia desde 2002, quando realizou "8 Mulheres", e a comparação entre ambos permite perceber do que estamos a falar: mistura humor e melodrama, brinca com os géneros cinematográficos e Catherine Deneuve lidera com autoridade um elenco competente.

É uma comédia com uma energia transbordante, que encontra o seu público num contexto de crise na Europa. Sim, a luta de classes passa por aqui, com um foco retro que remete para a década de 70, o que permite reflectir de forma mais descontraída várias questões sociais pernitentes do nosso tempo.

Crítica de Tiago Alves actualizado às 17:41 - 18 março '11
publicado 01:38 - 17 março '11

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