As aventuras de Mad Max — uma saga que vai de 1979 a 2015

12 Mai 2015 20:23

Pode (ou deve) um grande festival como Cannes ceder os seus espaços de honra aos chamados "blockbusters" de Verão? A pergunta é, talvez, demasiado simplista, sobretudo se não abdicarmos do mais primitivo axioma cinéfilo: um filme é um filme é um filme… Em todo o caso, é verdade que os seus ecos (comerciais e simbólicos) têm assombrado certames como Cannes ou Veneza.

Digamos que, este ano, a equipa de Thierry Fremaux resolveu o problema através de uma solução ambígua: "Mad Max: Estrada da Fúria" está no festival, mas não tem honras de filme de abertura (guardadas para "La Tête Haute", de Emmanuelle Bercot, com Catherine Deneuve); é uma típica produção do Verão internacional, mas surge "no meio" dos outros filmes (de tal modo que a própria projecção de imprensa apenas está marcada para quinta-feira, dia em que também ocorrerá a apresentação oficial).
A boa notícia está para além destes cálculos mais ou menos protocolares. Que é como quem diz: George Miller apostou em regressar ao seu herói futurista e motorizado (o primeiro título da série, "Mad Max – As Motos da Morte", data de 1979 e foi um momento decisivo na projecção de Mel Gibson), arquitectando um delirante espectáculo visual que está longe de se esgotar no aparato dos efeitos especiais.
Estamos, de facto, perante o retorno radical — apetece dizer: puro e duro — de um modelo de fábula apocalíptica que vive, antes do mais, da criação de um universo cenográfico e conceptual capaz de questionar as ilusões de qualquer humanismo piedoso. A aliança de Max com a Imperator Furiosa (assim mesmo, não há erro de escrita…) confunde-se com a demanda utópica, e utopicamente ecológica, de um mundo em que não deixe de haver lugar para o feminino.
É verdade: à sua maneira, "Mad Max: Estrada da Fúria" é uma celebração feminista, ainda que alheia a qualquer facilidade panfletária ou moralista — aqui, o que mais conta é a sensação de um tempo trágico, sempre em fuga, sempre ameaçado pela mais brutal devastação.
E não é das menores maravilhas do filme que Charlize Theron, no papel da (muito) Furiosa, consiga sustentar a sua personagem para além de qualquer cliché sexual ou moral. Isto sem esquecer, claro, que Tom Hardy, no papel do herói que não transige no valor da sobrevivência, vem mostrar uma vez mais a desmesurada energia do seu imenso talento.
  • cinemaxeditor
  • 12 Mai 2015 20:23

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