Matt Damon a retomar a personagem de Jason Bourne — correr para quê?...


joao lopes
29 Jul 2016 4:48

Na maior parte das imagens para a imprensa do filme "Jason Bourne", vemos Matt Damon a correr, a correr… Ou de moto, a acelerar… Ou a conduzir um automóvel, a alta velocidade… Este é, de facto, um daqueles filmes em que se confunde a agitação visual com a produção de algo de dramaticamente intenso.

Estamos, afinal, perante um caso exemplar de um certo conceito moderno de espectáculo (?) que promove a "tremideira" das imagens (quase tudo parece filmado por um telemóvel nas mãos de alguém… a correr) como único princípio de encenação — definir personagens, criar tensões dramáticas ou consolidar estruturas dramatúrgicas, nada disso parece ter importância. Contar uma história é, aqui, um beco sem saída…
Estamos também, como é óbvio, perante o metódico esvaziamento do conceito de franchise, hoje em dia dominante, em particular nas produções "vocacionadas" para o Verão. Matt Damon parecia ter abandonado a personagem de Jason Bourne, o agente da CIA que foi condicionado para matar, ao mesmo tempo rasurando a sua identidade… Fez três filmes, falhou o quarto (com Jeremy Renner) e regressa agora no quinto, aparentemente para criar condições para… a produção de um nº 6.
O que é triste em tudo isto é o desperdício de talento. Isto porque, além do mais, o filme dirigido por Paul Greengrass é sustentado por uma máquina de produção de óbvia sofisticação técnica. Acontece que a exibição dos recursos dessa técnica está longe de sustentar um filme. Veja-se ou reveja-se o admirável "Barry Lyndon" (1975), de Stanley Kubrick, agora reposto — é óbvio que o seu requinte técnico coloca "Jason Bourne" num chinelo, mas será que é apenas por isso que, quatro décadas depois, o gtrabalho de Kubrick continua a fascinar-nos?

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