Estreia
Realismo alemão
Christian Petzold continua a contar histórias da sua Alemanha: no caso de "Barbara", através de uma personagem politicamente marginalizada, trata-se de evocar o princípio da década de 80 na Alemanha de Leste.
Nina Hoss interpretando a personagem de Barbara: na Alemanha de Leste, antes da Queda do Muro de Berlim
Trailer/Cartaz/Sinopse:
Barbara
1980. Alemanha Oriental. Barbara é uma pediatra transferida de Berlim para o hospital de uma cidade remota e isolada como represália por ter tentado emigrar para o lado Ocidental do país, onde se encontra o namorado. O novo apartamento, os novos vizinhos, o Verão e o campo não significam nada para Barbara. No trabalho é atenciosa mas distante, seguindo as indicações do responsável do Hospital, ...
Será que existe um realismo europeu? Claro que qualquer resposta mais ou menos taxativa corre o risco de passar ao lado da própria diversidade de uma produção cujos contrastes representam um dos seus principais trunfos culturais e comerciais. Seja como for, não será abusivo considerar que, em diversos países da Europa, se tem manifestado uma sistemática preocupação de olhar, de forma realista, para a actualidade social ou para algumas memórias históricas não muito distantes.
"Barbara", do alemão Christian Petzold, é mais um interessante exemplo dessa tendência. E tanto mais quanto Petzold arrisca lidar com o contexto da República Democrática da Alemanha, algures no início da década de 80, retratando o dia a dia de uma sociedade marcada pela acção discreta, mas insidiosa, das forças policiais.
A justeza do trabalho de Petzold enraiza-se, afinal, no cuidado com que evita qualquer maniqueísmo moral ou dramático para evocar um tempo anterior à Queda do Muro de Berlim. A odisseia da médica de nome Barbara (Nina Hoss) decorre de uma simples opção individual que adquire uma perturbante dimensão política: tendo assinado um documento a oficializar a sua vontade de partir para o Ocidente, acaba por ser compelida a aceitar um lugar num hospital de uma pequena cidade, vivendo assim um exílio interior rigorosamente vigiado.
Num mercado como o nosso, ainda marcado por muitos desequilíbrios e lacunas (nomeadamente face à pluralidade do cinema europeu), o conhecimento do trabalho de Petzold constitui, apesar de tudo uma excepção. Assim, em poucos anos, "Barbara" é o seu terceiro título a chegar às salas escuras, depois de "Yella" (2007) e "Jerichow" (2008), os três protagonizados por Nina Hoss. "Barbara" ganhou o Urso de Prata (melhor realização) no Festival de Berlim de 2012; foi também o candidato oficial alemão ao próximo Oscar de melhor filme estrangeiro, mas ficou fora das nomeações.
Crítica de João Lopes
publicado 16:52 - 02 fevereiro '13