Documentário • Veneza 2013  

A mentira Armstrong: ascensão e queda

O realizador Alex Gibney documenta o regresso de Lance Armstrong à competiçao em 2009 e a revelação do uso de drogas para melhor o desempenho. E um dos documentários do ano e foi exibido fora da competição no Festival de Veneza.

O realizador Alex Gibney documenta o regresso de Lance Armstrong à competição em 2009 e a revelação do uso de drogas para melhor o desempenho. E um dos documentários do ano e foi exibido fora da competição no Festival de Veneza.

Cinco anos foi o tempo que o realizador Alex Gibney (premiado com um Oscar pelo documentário "Taxi to the Dark Side") necessitou para documentar o regresso à competição de Lance Armstrong e aprofundar a mentira que o ciclista manteve em torno do seu desempenho desportivo.

Este filme foi inicialmente concebido como um documentário centrado no regresso do ciclista em 2009, após uma pausa de quatro anos, na sequencia da serie de sete vitorias consecutivas em edições da Volta à França em bicicleta, entre 1999 e 2005.

Mas Alex Gibney foi surpreendido pela célebre revelação de Armstrong no programa de Oprah Winfrey, em 2012. Na sequência disso, Gibney inverteu o rumo do documentário e forçou a realizaçao de uma entrevista posterior de Armstrong sobre o assunto (realizada três horas depois da transmissão do show de Oprah).

O filme documenta de forma muito pormenorizada a ascensão e queda do ciclista. Não revela nada de realmente novo, estando dividido e duas partes distintas: a primeira regista o sucesso profissional e a superação de Armstrong após ter sobrevivido a um cancro, ilustrando o modo como isso o mudou fortaleceu a sua mentalidade competitiva.

A segunda desvenda a mentira que Armstrong sustentou e aprofunda as ligações que mantinha no mundo do ciclismo e a omertà, o código de silêncio da máfia, que permitia negar a existência de drogas e transfusões de sangue, mantendo assim uma prática
comum a todos os ciclistas.

Gibney admite que foi um dos fãs de Armstrong e que ficou destroçado com as revelações do ciclista. Por isso assume a narração do documentário, substituindo Matt Damon que desempenhava esse papel na primeira versão, prévia à revelação, e que ficou concluída em 2012 - Damon foi a escolha por ser o ator que representara Armstrong num filme ficcionado.

O mais original do filme é o retrato de Armstrong que surge como um homem carismático, que adquiriu imenso poder e usou-o de forma arrogante, criando uma serie de inimigos – o seu regresso, em 2009, após o sucesso que tinha obtido, demonstra essa dimensão de alguém que estava permanente disposto a tudo para vencer e superar limites.

O filme, ironicamente, serve as intenções de Armstrong que continua, ao assumir a verdade, a tentar controlar a narrativa dos acontecimentos. Ele ainda espera ser reabilitado ou recordado como alguém que ganhou sete vezes a Volta a França em bicicleta... numa época em que todos os ciclistas utilizavam drogas.

“The Armstrong Lie” vai estrear nos Estados Unidos em 8 de novembro e é um filme a considerar para os Oscars na categoria de melhor documentário. Vai ser distribuído em Portugal mas não tem data de estreia.