Estreias  

A morte anunciada de Hollywood

Com "Eternos", a fábrica de super-heróis Marvel/Disney continua a celebrar a sua apoteótica mediocridade. A realização tem assinatura de Chloé Zhao, a cineasta de "Nomadland", pormenor totalmente indiferente para os resultados...

A morte anunciada de Hollywood
PASSATEMPO — A: uma actriz a representar? B: uma confusão digital? (Solução: B)
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Que se passa, então? Pois bem, o mundo está à beira do apocalipse (ou para lá do dito, a coisa não é muito clara...), mas há um grupo de super-heróis para o/nos salvar. Alimentados a efeitos especiais policopiados, nada mais acontece a não ser ruído e confusão... E um obsceno desespero pelos actores, incluindo Angelina Jolie...

Aliás, tal como os seus companheiros do elenco de "Eternos" (Marvel/Disney), Angelina Jolie parece tão desamparada quanto consciente do absurdo do empreendimento — e, por certo, paga a a peso de ouro... Por um lado, filmam-na em meia dúzia de grandes planos, sujeita a reproduzir diálogos de galáctica indigência; por outro lado, refazem digitalmente o seu corpo para algumas proezas físicas que, de facto, não passam de piruetas de patético robot. Que é como quem diz: não necessitavam de uma actriz tão talentosa. 


Fica o saldo simbólico (?) que o marketing quer vender. A saber: esta é uma realização de Chloé Zhao, a brilhante e "oscarizada" autora de "Nomadland" (2020), logo uma obrigatória (?) afirmação da identidade feminina...

Como?... Importa-se de repetir?... Em boa verdade, prevalecem os valores de uma fábrica de produção contínua, sem qualquer projecto artisticamente consistente. Aliás, sem sequer uma ideia, ainda que frágil, para contrariar o insuportável cliché do mundo vai acabar, quem o pode salvar?...

Fica, assim, por demonstrar que o facto de uma mulher dirigir um filme tão mau como aqueles que são assinados por homens seja uma proeza a ter em conta. Os arautos deste feminismo de pacotilha estão a matar, metodicamente, qualquer pensamento sério sobre o masculino/feminino, ao mesmo tempo que vão destruindo Hollywood por dentro.

Crítica de João Lopes
publicado 22:21 - 05 novembro '21

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