Ivan Trojan interpreta Jan Mikolasek: memória da Checoslováquia pós-Segunda Guerra Mundial


joao lopes
16 Mai 2021 19:21

Agnieszka Holland, nascida em Varsóvia há 72 anos, é uma veterana da produção cinematográfica da Polónia com uma obra em que as contradições do chamado socialismo real têm um peso decisivo. Mais exactamente, a herança traumática da Segunda Guerra Mundial leva-a a interessar-se pelas convulsões do pós-guerra nos países do leste europeu.

Assim volta a acontecer em "Charlatão", baseado na história verídica de Jan Mikolasek, um curandeiro que, na Checoslováquia, depois da Segunda Guerra Mundial, se tornou famoso por tratar e curar muitos doentes através de ervas mais ou menos milagrosas. Mais do que isso: o essencial dos seus diagnósticos resultava "apenas" da análise de amostras de urina dos seus pacientes.


"Charlatão" não é tanto sobre as questões médicas que a personagem pode suscitar, mas mais sobre o conflito entre a sua prática e a acção das autoridades que não toleram a existência de alguém que escapa a um sistema de organização puramente estatal. O mais interessante do filme tem que ver com as convulsões desse conflito — há na personagem do curandeiro um idealismo, misturado com misticismo, que não é tolerado pelas directrizes políticas de um Estado autoritário, por vezes extremamente violento.
 

É pena que um certo academismo da narrativa — com sucessivos flashbacks que vêm "explicar" todo o processo que levou as autoridades a investigar, prender e julgar Mikolasek — limite a energia dos resultados. Seja como for, há nas personagens uma verdade física e emocional que, para lá do talento dos intérpretes, confirma Agnieszka Holland como uma excelente directora de actores: o destaque obrigatório para o checo Ivan Trojan na personagem central do curandeiro.

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