joao lopes
28 Ago 2016 2:22

Digamos que é uma quase-estreia: cinco anos depois do falecimento de Raúl Ruiz, o seu admirável "Mistérios de Lisboa" (2011) regressa às salas escuras (em cópia remasterizada), ao mesmo tempo que é relançado em DVD.

É bem verdade que a obra de Ruiz, sempre tão fascinada pelo potencial onírico de qualquer ficção, por vezes "desviou-se" para terrenos algo formalistas que, na arbitrariedade dos seus efeitos, diminuiam a energia dos resultados. Desta vez, porém, a inspiração de Camilo Castelo Branco surge trabalhada através de um risco admirável — trata-se de refazer o melodrama histórico, deixando ver como a história é também aquilo que escapa aos sentidos dos humanos.
Por isso, este século XIX não é um tempo de mera acumulação de "adereços", antes um labirinto de personagens e desejos em que a irredutibilidade de cada ser humano constitui um valor fulcral. Daí também a importância do delicado labor de um elenco que inclui, entre muitos outros, Adriano Luz, Ricardo Pereira, Afonso Pimentel, Maria João Bastos e Albano Jerónimo.
Enfim, saudemos a permanência — e, mais do que isso, a regularidade — das reposições de filmes. O mercado percebeu, finalmente, que a preservação da(s) memórias é uma importante questão comercial. Logo, cultural.

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