Box Office • Oscar 2011
A receita para ganhar dinheiro com os Oscars
Afinal, os Oscars dão dinheiro ou não passam de um desfile de vaidades para encher o ego?
O ritmo frenético da indústria do entretenimento torna-a avessa a receitas e fórmulas mágicas. Mesmo assim é possível identificar técnicas que permitem aumentar a probabilidade de sucesso durante a temporada de prémios.
É verdade, os Oscars e derivados têm muito a ver com vaidades e egos, mas os bolsos também podem inchar tanto como o ego de quem acabou de agradecer a meio mundo por receber uma estatueta dourada. Tanto os nomeados como os vencedores, podem recolher benefícios imediatos de todo este circo.
Para actores, realizadores e argumentistas um Oscar ou uma nomeação significa convites para mais projectos e pagamentos mais elevados. Para os produtores significa acesso facilitado a crédito e investidores e portas abertas nos estúdios.
Em suma, todos sobem uns quantos degraus na cadeia alimentar da indústria do entretenimento.
Para ter sucesso na temporada de prémios e rentabilizar ao máximo as potenciais distinções e nomeações há alguns passos essenciais que é preciso seguir:
Data de estreiaA Academia - tal como o público em geral, diga-se - tem a mente formatada e a memória curta. Na maioria das vezes, os votantes são incapazes de recordar os bons filmes vistos no início do ano. É um sistema injusto. Deixa de fora uma quantidade assustadora de títulos que mereciam carinho e exposição mediática, mas são estas as regras do jogo e todos as conhecem.
Se um determinado projecto tem como objectivo chegar em boa forma à temporada de prémios é essencial que aponte para um lançamento nos últimos dois meses do ano. E, para rentabilizar ao máximo a eventual presença entre os favoritos, convém ter muito cuidado com os passos seguintes.
Estratégia de distribuiçãoPara se qualificar para os Oscars é preciso que um filme tenha estreado em pelo menos um cinema do condado de Los Angeles e que tenha estado em exibição durante pelo menos sete dias até 31 de Dezembro do ano anterior.
O ideal será sempre manter a distribuição no nível mínimo durante as primeiras semanas. Começar pelas cidades chave onde se sabe que o filme terá melhor recepção. Ver como correm as coisas nos prémios da crítica e aumentar o número de ecrãs a cada semana. Recomenda-se que o lançamento internacional fique para mais tarde.
Um lançamento prematuro, sem apoio das nomeações para os Oscars e outras
distinções menores, pode equivaler a um resultado discreto na
bilheteira. Gastar todos os cartuchos antes do anúncio público das
nomeações pode destruir rapidamente o potencial comercial de um filme e hoje em dia as receitas do internacional já são mais importantes do que as do mercado doméstico.
O importante, nesta fase, é manter o filme vivo no mercado norte-americano e dá-lo a conhecer aos membros votantes da Academia.
E, claro, anunciar aos sete ventos que se tem um filme "Oscarizável".
Estratégia de marketing e relações públicas
A temporada de prémios em Hollywood divide-se em cinco fases:
- A época dos rumores em que gurus da imprensa especializada tentam identificar os potenciais candidatos.
-
Distinções das associações de críticos.
-
Globos de Ouro (sub-dividida em dois momentos, nomeações e entrega dos prémios).
- Prémios das associações profissionais (Screen Actors Guild, Producers Guild, etc.).
- Oscars (tal como os Globos também tem dois momentos, nomeações e cerimónia de entrega).
Em cada uma das fases é essencial manter o interesse em relação aos filmes que se pretende promover. E são diversos os públicos a que é preciso chegar.
Há que levar o maior número possível de membros votantes a ver os filmes, seja através do envio de screeners sejam em sessões especiais organizadas para o efeito.
É vital encher a imprensa da especialidade com os famosos anúncios e juntar as palavras mágicas: "for your consideration".
Há que informar e tentar influenciar os jornalistas, críticos e colunistas (e sim, nos EUA isso inclui muitos bloggers).
Por fim. é necessário que o tal buzz chegue ao público consumidor de cinema. Tanto ao público interno como internacional.
A fase em que mais dinheiro há a ganhar é a que medeia entre o anúncio das nomeações e a cerimónia de entrega dos prémios. Por uma razão simples: os nomeados são muitos, os vencedores da noite de entrega, normalmente, não são mais do que um ou dois e os restantes são rapidamente esquecidos.
A influência dos Oscars no box office de 2011Se no ano passado a influência dos prémios de cinema no box-office foi quase nula, este ano o cenário é mais animador.
Podemos dividir os contendores em duas categorias, quem ainda tem alguma coisa a facturar em termos imediatos e quem compete apenas pelo prestígio.
Do lado dos títulos que já arrumaram as botas em termos de receitas de bilheteira temos:
"A Origem"
Saiu para as salas em Julho. O filme de Christopher Nolan não tinha os Oscars como objectivo principal. Ao ser lançado no Verão "A Origem" lutava por boas receitas numa altura de concorrência feroz entre blockbusters.
Safou-se bem. 823 milhões de dólares em todo o mundo para um custo estimado de produção a rondar os 160 milhões, quarto maior blockbuster do ano. Aqui, as oito nomeações são apenas um bónus agradável.
"A Rede Social"
O filme de David Fincher foi o primeiro grande candidato aos Oscars deste ano, mas tem vindo a perder fôlego. Com a estreia em Outubro a Sony Pictures acreditou que o filme poderia render mesmo sem o auxílio dos prémios. A decisão estava correcta. O filme soma, nesta altura, uma receita global de 218 milhões de dólares para um custo estimado de produção de 40 milhões.
"Toy Story 3"
Outro filme que não foi feito a pensar nos Oscars, mas que acabou por conseguir uma mão-cheia de nomeações. Mais um que tem a carreira terminada em termos de receitas. Um Oscar? Era simpático, mas o que realmente interessa são os 1.063 milhões de receita bruta em todo o mundo e o título de #1 de 2010.
Do outro lado, totalmente dependentes temporada de prémios, estão:
"Cisne Negro", "Indomável" e "O Discurso do Rei". Numa segunda linha, "The Fighter - O Último Round", "127 Horas", "The Kids Are All Right" e "Despojos de Inverno".
Todos têm em comum o facto de serem pequenas produções. A mais cara, "Indomável" custou 38 milhões de dólares.
Quase todos estrearam entre Novembro e Dezembro de 2010. As excepções, "Winter's Bone" e "The Kids Are All Right", tal como os outros, ainda têm por fazer praticamente todo o circuito internacional de lançamentos.
É para estes filmes que os Oscars, os Globos e toda a série de pequenos prémios e galardões são necessários. Sem eles, passariam despercebidos entre blockbusters, 3D e efeitos especiais.
No início referi uma certa formatação das mentes dos consumidores. Pois esta é a altura do ano em que conseguimos que a atenção das multidões se concentre em filmes que, por uma questão de comodidade, vamos chamar de "mais sérios". Os "Quem Quer Ser Bilionário?"(2008), "A Paixão de Shakespeare" (1998) ou "O Paciente Inglês (1996) deste mundo.
A relevância dos prémios da Academia numa indústria em mutação será esta: a de conseguir projectar o que é pequeno para dimensões planetárias. Era bom que Cannes, Berlim, Veneza ou Sundance conseguissem o mesmo.
por António Quintas
publicado 15:07 - 09 fevereiro '11