Solveig Dommartin (1961-2007), em

17 Fev 2017 22:54

Com a estreia de "Os Belos Dias de Aranjuez", voltamos a encontrar uma especialíssima colaboração entre dois nomes grandes da cultura alemã do último meio século: são eles o autor da peça de teatro original, Peter Handke, e o realizador Wim Wenders. A sua colaboração mais célebre é, sem dúvida, "As Asas do Desejo".

A colaboração entre Peter Handke e Wim Wenders tinha começado em 1972 com uma parábola existencial que tem um título célebre e irresistível: "A Angústia do Guarda-redes no Momento do Penalty". "As Asas do Desejo" surgiu 15 anos mais tarde, portanto em 1987 [foi objecto de uma recente reposição, em cópia restaurada]. Viajamos pelos céus de Berlim, num território habitado por anjos, sem muros a dividi-lo — dois anos depois, em 1989, o Muro de Berlim caía mesmo e o filme ficou como uma premonição poética das convulsões da história.



Peter Handke é alguém que sabe dar às palavras um peso muito especial, peso que, ironicamente, começa na simples capacidade de nomear as coisas do mundo à nossa volta: as vozes das crianças, os elementos da paisagem. O seu realismo à flor da pele remete-nos para as zonas menos visíveis, e também mais enigmáticas, do comportamento humano. É também isso que encontramos em "A Mulher Canhota" (1978), o primeiro filme que Handke assinou como realizador [outra reposição recente].

Há nos filmes de Wenders uma musicalidade interior que, afinal, não é estranha às palavras escritas por Handke. E é um facto que um dos cúmplices mais regulares desse processo criativo tem sido Nick Cave. No caso de "Os Belos Dias de Aranjuez", ele surge mesmo, como uma aparição mágica, a interpretar "into My Arms", uma canção do seu álbum "The Boatman’s Call"(1997).


  • cinemaxeditor
  • 17 Fev 2017 22:54

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