Martin Sheen no papel do capitão Willard: nos cenários dantescos do Vietname


joao lopes
21 Dez 2019 22:17

Face à possibilidade de reencontro com a obra-prima de Francis Ford Coppola, o primeiro impulso será o de saudarmos o regresso de um título central na história moderna de Hollywood e, em boa verdade, de todo o cinema. Mas importa sublinhar a singularidade do evento: não se trata de uma reposição mas, de facto, de uma estreia.

Porquê? Porque "Apocalypse Now" passa a existir como um tríptico com 40 anos de história (1979-2019). Apetece dizer, aplicando uma linguagem musical: tema e variações. Primeiro, em 1979, o filme surgiu com 2 horas e 33 minutos, com essa duração arrebatando a Palma de Ouro de Cannes; depois, em 2001, Coppola decidiu integrar algumas sequências que tinham ficado de fora, lançando "Apocalypse Now Redux", totalizando 3 horas e 22 minutos; agora, a versão final [final cut] tem 3 horas e 3 minutos.
Lembremos o mais básico: qualquer das versões é um esplendoroso objecto, celebrando o cinema como espectáculo maior que a vida, em tudo e por tudo diferente dos actuais modelois dominantes de super-heróis e afins que, quase sempre, reduzem o cinema a uma ostentação gratuita de proezas técnicas. Seja como for, com "Apocalypse Now – Final Cut", Coppola terá encontrado o equilíbrio ideal do seu projecto, para mais contando com um exemplar restauro em digital 4K.
A saga do capitão Willard (Martin Sheen), encarregado de localizar e destruir o coronel Kurtz (Marlon Brando) desloca a novela clássica de Joseph Conrad, "Coração das Trevas" (1899), para os cenários dantescos do Vietname. Dito de outro modo: a crónica contudente do colonialismo transfigura-se, assim, em parábola sobre os traumas da guerra e o inferno das relações humanas. Ver ou rever tal proeza no ecrã de uma sala escura fica como um acontecimento fulcral do ano cinematográfico em Portugal. 

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