Javier Bardem e Charlize Theron — com os conflitos da Libéria em pano de fundo


joao lopes
6 Abr 2017 0:39

Sejamos tão directos quanto possível: se o filme "A Última Fronteira" (título original: "The Last Face") não trouxesse a assinatura de realização de Sean Penn, muito provavelmente nem sequer o estaríamos a referir. Falo por mim, antes do mais: descobri-o na competição de Cannes/2016 com um máximo de simpatia pela trajectória do actor/realizador, mas também com o desencanto de assistir a um projecto profundamente equivocado.

Sean Penn coloca as suas duas personagens centrais — dois voluntários de uma missão humanitária nos conflitos na Libéria — no interior de uma convulsão de violência e desespero em que, no limite, são impelidos a questionar o sentido e a lógica do seu próprio trabalho. Será possível contribuir para salvar inocentes? E as instâncias políticas atenderão ao sofrimento da gente anónima?
Infelizmente, o empenho humanista surge reduzido a um exercício simplista em que cada uma das figuras centrais parece falar, não como personagem, antes como locutor de um "sermão" de boas intenções. Resultado prático: o esvaziamento dramático do filme e, enfim, a banalização do talento dos seus actores principais, Charlie Theron e Javier Bardem.
Afinal de contas, não nos podemos esquecer que, para além das suas qualidades de actor, Penn já dirigiu filmes como "The Indian Runner" (1991) e "O Lado Selvagem" (2007). Não creio que "A Última Fronteira" seja uma boa razão para o difamar (como alguma imprensa pretendeu em Cannes), mas este é, de facto, um enorme percalço no interior da sua trajectória criativa.

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