Francesco Di Napoli (à esquerda) é uma revelação em


joao lopes
16 Jun 2019 19:50

Pátria do neo-realismo cinematográfico, a Itália nunca deixou de gerar filmes que, de uma maneira ou de outra, se distinguem pelo seu impulso realista. Para nos ficarmos por alguns exemplos recentes, lembremos a visão do mundo da construção civil por Daniele Luchetti, em "A Nossa Vida" (2010), ou o retrato do submundo de Nápoles feito por Matteo Garrone em Gomorra" (2008), a partir de um romance de Roberto Saviano.

Saviano é um nome de novo em evidência através de nova adaptação de um dos seus livros: "Piranhas – Os Meninos da Camorra" regressa aos bairros dos subúrbios de Nápoles para expor os circuitos do crime organizado. Com uma diferença que está longe de ser secundária: desta vez, as personagens nucleares são os filhos das famílias rivais.

O grupo dirigido pelo jovem Nicola (Francesco Di Napoli, uma verdadeira revelação) surge, assim, como uma entidade enquistada entre duas formas de vida: uma adolescência de permanente deambulação, em particular tentando aceder aos mais caros objectos de consumo, e a ocupação de um território violento em que as armas tendem a ser a componente primordial de qualquer forma de poder.
Claudio Giovannesi, cineasta nascido em Roma, em 1978, filma as atribulações do grupo de Nicola sem ceder a qualquer facilidade "simbólica". O que mais conta é, aqui, precisamente, a vibração realista: "Piranhas – Os Meninos da Camorra" impõe-se como um retrato frio e desencantado de um universo contaminado pelas sombras da morte — mesmo quando os seus rostos (ainda) conservam a alegria primitiva da infância.

+ críticas