Laia Costa interpreta a personagem de Victoria — uma aventura no tempo


joao lopes
18 Jul 2016 15:00

Distinguido com seis prémios do cinema alemão — incluindo melhor filme e melhor realização de 2014 — "Victoria" é, de facto, um objecto fora do comum. A sua encenação num só plano (o filme dura um pouco mais de duas horas e foi rodado numa única take) representa um desafio físico e narrativo que, além do mais, só se tornou possível graças às câmaras digitais.

Escusado será lembrar que a película nunca pôde existir em bobinas com tal duração (10 minutos é o limite tradicional), mesmo se houve quem desafiasse tal barreira material para, através de hábeis "colagens", criar uma narrativa em continuidade temporal e espacial — recordemos esse filme admirável que é "A Corda", realizado por Alfred Hitchcock em 1948.
Agora, o realizador Sebastian Schipper, também actor (vimo-lo, por exemplo, em "Corre, Lola, Corre", de Tom Tykwer, lançado em 1998), aposta em contar a aventura de Victoria (Laia Costa) na noite de Berlim, colando-se aos seus gestos e movimentos numa vertigem em que a sensação de continuidade, mais do que um dispositivo técnico, constitui um fundamental elemento dramático.
É certo que a história de Victoria e do grupo com que se envolve nem sempre escapa a soluções mais ou menos conhecidas do "thriller" urbano. De qualquer modo, "Victoria" supera essas limitações através da sua genuína aventura de filmagem, mostrando como está de novo em aberto a questão da duração cinematográfica. Sabêmo-lo desde os clássicos: o tempo é o mais incotornável dos temas.

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